Ataque dos Titãs | Chegamos ao final

Após 12 anos o mangá Ataque dos Titãs escrito por Hajime Isayama chegou ao fim e foi maravilhoso!

Eu tenho que dizer que o alívio que estou sentindo ao escrever essa coluna é palpável.

Mais de uma vez em minhas colunas aqui para o site eu já falei sobre a frustração que os fins da grande maioria das histórias em geral têm sido nos últimos anos.

A necessidade que os criadores sentem de chocar o espectador ou leitor, mesmo que às custas da própria história, virou uma tendência que parece não querer acabar tão cedo e que leva a finais totalmente aleatórios, sem sentido e extremamente brochantes para narrativas que até então foram muito bem construídas e com todo o potencial para finais igualmente tão bem feitos.

Há alguns meses eu fiz uma coluna sobre dois episódios do anime que foram excepcionais e nela menciono o quanto Ataque dos Titãs parece fugir a essa regra, fazendo questão de, até então, dar a seus fãs a recompensa que eles merecem a cada ponto da estrada conforme ela é construída e pavimentada.

Na época não havíamos chegado ao fim da estrada ainda, então eu sabia que havia a possibilidade muito real de que eu viesse a pagar pela língua e a ansiedade cada vez que eu contemplava esse cenário com um fim decepcionante não foi nada divertida.

Mas eis que, de vez em quando, caímos na melhor timeline e, graças aos deuses narrativos, foi o caso com Ataque dos Titãs.

*o texto a seguir contém spoilers sobre o final de Ataque dos Titãs

Um final merecido

A jornada foi infernal, mas cada segundo valeu a pena

Sempre que falava com amigos sobre o que esperávamos para a conclusão dessa história eu respondia que queria um final digno de tudo o que veio antes e que foi tão bem feito, queria um final onde todo o sofrimento pelo qual os personagens passaram e todos os sacrifícios não fossem em vão, e foi exatamente isso que Isayama nos deu.

Eu poderia falar sobre essa história indefinidamente. Ao longo desses 12 anos (no meu caso 8) e 139 capítulos, é impossível contar todos os momentos em que vibrei, ri e chorei com ela.

Mas, conversando com o Guilherme, meu amigo muito perspicaz que também é fã da obra e colunista aqui do site, e lendo as opiniões de algumas outras pessoas online, cheguei à conclusão de que o que mais gostei sobre essa conclusão foi o fato de que, no fim, tudo se resumiu em amor; amor em todas as suas formas.

Em se tratando de uma história que, desde o início, parecia tão completamente definida e movida pelo ódio, ao contrário do que os que ficaram insatisfeitos com o final acham, eu achei a decisão de Isayama em mostrar que o amor sempre foi o real protagonista de sua história muito ousada, corajosa e extremamente relevante, principalmente na época em que estamos vivendo.

O Eren real

Eren quando ele ainda sorria

Apesar de todas as atrocidades que Eren estava cometendo, era difícil para mim conciliar a imagem dele de agora com tudo o que sabemos sobre ele.

Sim, faria sentido que, considerando tudo o que ele passou, ele tivesse ficado completamente maluco ao ponto de ficar indiferente a perda de vidas inocentes.

É possível argumentar que sua construção tinha embasamento suficiente para isso e faria sentido se tivesse sido assim, mas ainda era difícil para mim conciliar a ideia desse Eren irascível e sem coração que não se importa nem com seus amigos mais próximos, que só quer acabar com tudo.

Toda vez que eu contemplava esse final para o personagem uma das coisas que rodava em loop na minha cabeça era o quanto foi martelado ao longo da história a preocupação e amor que Eren sentia pelos amigos.

Eu até conseguia enxergar e conciliar um Eren que se virou contra o mundo, mas não um que se virou contra os amigos, principalmente Armin e Mikasa.

Eu posso citar vários momentos ao longo da história para comprovar isso, mas um em específico que consolida essa característica dele para mim de forma irrefutável é o que acontece em Midnight Sun, o episódio 18 da terceira temporada do anime que merece uma coluna a parte de tão excepcional.

Estou me referindo a cena em que eles devem decidir entre salvar Armin ou Erwin com o soro.

Ações falam muito alto

O amor que Eren sente por Mikasa e Armin sempre foi mais forte do que tudo

A cena mencionada acima é um show de roteiro, direção e atuação. Tenho que fazer uma menção especial aos dubladores que elevaram tudo a outro nível, principalmente Yūki Kaji, que dubla Eren e com o qual é impossível não chorar quando, com a voz falhando, ele explica de forma extremamente emotiva, mas certeira, porque Armin merece ser salvo.

Todos esses elementos foram utilizados com maestria para não deixar nenhuma sombra de dúvida sobre aquele que é o aspecto mais importante de Eren, o amor que ele sente pelos amigos. Essa sempre foi a única força capaz de superar o desejo por liberdade e vingança que ele sente.

Sim, desde criança, Eren sempre foi capaz de violência extrema e sempre carregou um ódio por opressores que o consome e o move. Mas nos momentos em que pessoas que ele ama estão em perigo, ele sempre foi capaz de deixar o descontrole de lado, analisar a situação com frieza e dar os passos necessários para resolvê-la.

Quando a vida de seus amigos está em jogo, o amor que ele sente por eles sempre eclipsou todo o resto.

Posso citar vários outros momentos em que esse aspecto de Eren se destaca: quando ele salva Armin da boca de um titã durante a Batalha por Trost; quando a necessidade de proteger Mikasa faz com que ele consiga recuperar o controle em meio a um colapso nervoso, entre muitos outros.

Destaco “Midnight Sun” pois ele se passa logo antes do salto temporal onde a mudança radical de comportamento de Eren acontece e, para mim, ele representa um ponto ao final de uma frase quando se trata de quem Eren realmente é.

Esse, assim como todos os outros momentos citados, determina de uma vez por todas algo que permaneceu imutável desde o início da história, não importa o que estivesse acontecendo, sobre o cerne emocional desse personagem e que é incontestável.

E é por isso que jamais consegui aceitar 100% essa ideia de um Eren totalmente tirano. Mesmo que houvesse argumentos suficientes para embasá-la, nenhum tinha o impacto, a força e a relevância que esse momento tem.

A confirmação de que o Eren dos últimos capítulos era realmente uma farsa faz dele um dos personagens mais trágicos e bem escritos que já vi. Eren sempre lutou pela liberdade com todas as suas forças, ele nunca suportou ser subjugado, ser oprimido, e ele desistiu da própria liberdade e aceitou se tornar aquilo o que mais odiava para que seus amigos tivessem uma chance de futuro.

Seu final só o consolidou ainda mais na minha lista de personagens favoritos.

O arco de Mikasa

Em um momento chave da história, Mikasa lembra Eren do quanto ele significa para ela

O desenvolvimento de Mikasa sempre esteve intimamente ligado ao de Eren. Desde que ele salvou sua vida quando os dois eram crianças, ele se tornou tudo para ela e o apego que ela sentia por ele era o que movia todas as suas ações.

Ela se junta às Tropas de Exploração única e exclusivamente para poder seguir ao lado dele, protegendo-o. Perdê-lo sempre foi seu pior pesadelo e pode-se dizer que aprender a lidar com a possibilidade de ter que viver sem ele era a lição mais importante que ela tinha que assimilar.

E essa é uma lição que ela aprende da forma mais dolorosa.

No fim, ela própria é quem faz seu pesadelo virar realidade, pois cabe a ela por fim a vida de Eren para acabar com a destruição em massa que ele vinha causando. Ela consegue fazer o que, até então, parecia impossível. Ela se liberta da dependência emocional que tinha de Eren e é isso que salva o mundo.

Quando a vemos ao lado do túmulo dele, é óbvio que ela ainda está passando pelo luto, e ela com certeza jamais vai deixar de sentir a dor de sua perda, mas, uma coisa importante que Eren lhe ensinou, foi a capacidade de seguir lutando.

Foi a voz de Eren em sua cabeça lhe dizendo para lutar que fez com que ela conseguisse matar o bandido que a sequestrou quando criança; quando ela acha que Eren morreu durante a Batalha de Trost e pensa em desistir de tudo, novamente, ela se lembra que precisa continuar lutando, mesmo que entre lágrimas; e ela com certeza vai seguir lutando agora.

“Nós vamos lutar até o amargo fim.”

As tropas de exploração sempre prontas para a batalha

A filosofia de Eren não atingiu apenas Mikasa, como prova essa frase de Jean em um dos últimos capítulos.

Não só ela deixa claro o papel e impacto que Eren teve no desenvolvimento de todos os personagens e na evolução da história como um todo, mostrando o porquê ele é o protagonista, mas ela também define aquele que é um dos meus aspectos favoritos dessa história.

Essa capacidade que os personagens têm de continuar avançando, mesmo quando tudo parece perdido, sua perseverança e resiliência inabaláveis sempre falaram muito alto ao meu coração.

Mesmo em meio a todas as tragédias, eles jamais deixaram de lutar por um futuro no qual valesse a pena viver, nunca deixaram de enxergar a luz no fim do túnel, não importa o quão impossíveis e terríveis as coisas ficassem.

Assim como o amor, o outro tema que sempre permeou toda a história, e que foi consolidado com esse final, foi a esperança, e tivemos o que foi provavelmente um dos finais mais esperançosos dos últimos tempos.

O que me leva a parte do fandom que ficou insatisfeita com o final.

Vi mais de uma pessoa dizendo que foi um final ruim, covarde, e é aqui que tenho que perguntar: em que universo você dar esperança para as pessoas é covardia? Em meio a tanta tragédia, dor, sacrifício e sofrimento, Isayama conseguiu passar uma mensagem de esperança, de amor, e você acha que isso é covardia? Que isso não vale de nada?

Depois de todo o inferno que esses personagens enfrentaram, o que seria um final corajoso e digno na sua opinião? Prefiro nem saber.

Ver esses personagens finalmente tendo ao alcance das mãos o futuro pelo qual tanto lutaram e se sacrificaram, foi um dos pontos mais altos, emocionantes e merecidos da história pra mim.

Que os insatisfeitos fiquem com o seu final corajoso, eu estou bem feliz com o meu final covarde. E espero permanecer uma escritora covarde também, que eu jamais me torne corajosa. Espero sempre ser capaz de trazer um pouco de luz para a vida das pessoas.

Obrigada, Isayama!

Adeus, esquadrão 104. Vamos levá-los no coração para sempre!

Em conclusão, tivemos um final trágico, dolorido, emocionante, lindo e esperançoso, que foi como um suspiro de alívio extremamente merecido após tanto sofrimento.

Só o que tenho a dizer para Hajime Isayama ao fim dessa jornada belíssima e inesquecível é obrigada por tudo. Valeu cada segundo.

Shinzou wo Sasageyo!

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Melissa Piroutek

Tradutora e cineasta formada em cinema pela Faculdade Anhembi Morumbi desde 2010. Apaixonada por cinema desde criança, sócio-proprietária, produtora, diretora e roteirista da produtora independente Best Team Productions.

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