Nós precisamos falar sobre Ataque dos Titãs

Essa coluna vai ser um pouco diferente porque eu não vou analisar nem criticar nada, ela está sendo escrita com o único propósito de surtar com os episódios 6 e 7 da quarta temporada de Ataque dos Titãs.

Só isso, nada mais.

Eu simplesmente preciso surtar com esses dois episódios maravilhosos e vai ser aqui.

Então, se você ainda não assistiu, esteja avisado de que o texto abaixo contém uma chuva de spoilers. E se já assistiu, bora surtar junto comigo.

Quando o criador sabe o que está fazendo

As Tropas de Exploração em seus novos uniformes táticos

Mais uma vez, Hajime Isayama provou que não só sabe exatamente o que está fazendo, como também sabe exatamente a melhor forma de entregar ao seu público o que ele quer.

Em uma era onde a tendência entre os criadores de conteúdo parece ser a de querer tirar uma com a cara dos fãs mesmo que as custas das próprias histórias, a sensação de recompensa com a qual esses dois episódios me deixaram foi muito bem vinda.

Os primeiros cinco episódios da temporada foram bem lentos e até meio arrastados, mas agora percebo que eles estavam construindo algo incrível e não foram, de forma alguma, aleatórios.

Isayama sabia que esse era o momento de nos fazer esperar, salivando a cada semana, aumentando a ansiedade e a frustração a cada novo episódio onde, mais uma vez, as Tropas de Exploração que conhecemos e amamos tanto não davam as caras e tínhamos que acompanhar um núcleo completamente novo de personagens.

Ele sabia que precisava adiar a recompensa o máximo que pudesse, para que quando ela finalmente chegasse fosse 100% satisfatória.

E foi uma senhora recompensa!

Nós que acompanhamos o anime estamos esperando por esse momento desde 2013, onde as Tropas iriam finalmente deixar de ser as presas e se tornar os predadores.

A letra de Guren No Yumiya, o tema de abertura da primeira temporada, já dizia “Vocês são as presas? Não, nós somos os caçadores!”, e, agora, essas palavras se tornaram 100% realidade.

A execução desses dois episódios foi perfeita. Cada momento chegou com um estrondo, cada introdução dos personagens que amamos foi pensada pra nos fazer vibrar.

A palpitação já começou no momento em que Pieck conversa com alguns soldados e vemos umas pessoas passando acima deles, sobre os telhados. Nós imediatamente já entendemos que o momento que está sendo adiado há cinco semanas chegou, as Tropas finalmente estão aqui, agora é só correr pro abraço.

O pavor absoluto nos olhos de Pieck demonstra que ela também sabe de quem se trata.

Agora, Mikasa.

Mikasa, em sintonia perfeita com Eren, utilizando as lanças do trovão para atacar o Titã Martelo de Guerra

Já perdi as contas de quantas vezes assisti a essa chegada absolutamente icônica e fenomenal da Mikasa.

Eu comecei a vibrar assim que Eren disse as palavras acima e quando o tema da Mikasa e do Levi começou a tocar assim que ela entrou em cena, me arrepiou até a alma.

Esse Tweet me define:

Mas não para por aí.

Como já era de se esperar, a chegada de Levi também fez o coração bater mais forte.

Logo antes de Eren ser atacado por Galliard, vemos uma figura com uma capa verde esvoaçante assistindo a cena de um dos telhados; o coração já pula uma batida aí.

Quando o Mandíbula está prestes a morder a nuca de Eren, essa mesma figura o impede. Faço minhas as palavras do Guilherme, outro colunista aqui do site, enquanto assistíamos a esse momento: “O patrão chegou”.

Já sabemos que é Levi antes mesmo de vê-lo e, meu Deus, como é bom vê-lo novamente e já chegando com os dois pés na porta!

Assim como com Pieck, o terror no rosto de Galliard demonstra que ele também já sabe de quem se trata e, quando Levi e os outros membros das Tropas de Exploração vêm em sua direção pelo ar, suas palavras não poderiam descrevê-los melhor, são os demônios da Ilha Paradis, e eles vão fazer questão de fazer jus ao nome que lhes foi dado.

O plano utilizado nessa cena foi lindíssimo e, assim como todo o resto, muito bem pensado. Vemos apenas suas silhuetas definidas por um dos pontos de luz que eles próprios foram colocando pela cidade para marcar suas posições, literalmente iluminando suas presenças e se colocando em foco na cara do inimigo.

Levi e os membros das Tropas de Exploração prestes a atacar o Titã Mandíbula

O dia do acerto de contas chegou e não há escapatória.

A eficácia dessa cena também se deve ao fato de que as Tropas de Exploração se tornaram uma espécie de pesadelo na mente dos moradores de Marley. Eles são o monstro embaixo da cama, o bicho-papão.

O terror para os habitantes da Ilha Paradis era os titãs, mas para os habitantes de Marley, esse terror são as Tropas de Exploração.

Marley sempre se apoiou única e exclusivamente no poder dos titãs como forma de defesa, enquanto a Ilha Paradis passou centenas de anos se especializando em formas de matá-los, ou seja, é um exército de pessoas cuja principal habilidade é destruir essa forma de defesa.

É como soltar um lobo num galinheiro, e a ideia de mostrar apenas a silhueta desse lobo chegando funcionou perfeitamente para demonstrar que o pavor que Marley está sentindo agora foi exatamente igual ao que a Ilha Paradis sentiu na primeira aparição do Titã Colossal.

Eu nunca imaginei que o dia chegaria aonde veríamos titãs sentindo medo de pessoas, mas aqui estamos e é inexplicavelmente satisfatório.

Armin

Armin logo antes de detonar o porto

Armin também chega na festa de forma inesquecível, causando um impacto literalmente atômico.

Assim que as tropas chegam na cidade, passamos o tempo todo pensando “onde está o Colossal?”. A antecipação para ver Armin como o titã pela primeira vez era grande e não decepcionou.

Armin nunca foi do tipo que faz nada pela metade, assim como Levi e Mikasa, quando ele entra em cena é para resolver a situação, então, naturalmente, ele já chega usando toda a capacidade de seu poder para nivelar o porto do continente através de uma explosão nuclear, de forma a impedir que qualquer tipo de ajuda chegue aos habitantes de Liberio que estão sendo atacados por Eren e as Tropas de Exploração.

Jean e Sasha

Jean, com sangue nos olhos, prestes a acabar com a Titã Cargueiro
Sasha 100% focada e fria após atirar na cabeça de um soldado

Seguindo o exemplo de seus colegas, esses dois também já chegam mostrando serviço.

Sasha sempre foi boa de mira, mas agora é a franco-atirador oficial do grupo. Ela não hesita e seus tiros são certeiros e para matar.

Jean está em busca de vingança contra a Titã Cargueiro que conseguiu escapar com Reiner na temporada anterior.

São os esforços combinados de ambos que conseguem finalmente impossibilitá-la por um tempo, e quando Jean está prestes a dar o golpe final, Falco se coloca na frente para protegê-la.

Vemos a insegurança nos olhos de Jean ao perceber que vai ter que matar uma criança a sangue frio, mas, assim como Sasha, ele também já não hesita mais e segue em frente mesmo assim.

Eren

A mudança de Eren já fica nítida só pelo olhar

De todos os personagens, o que mais está modificado é sem dúvida Eren.

Pode-se dizer que ele é o completo oposto da pessoa que era antes. Eren sempre foi muito impulsivo, agia antes de pensar e era movido única e exclusivamente pela emoção, o que sempre acabava lhe causando problemas.

Apesar disso, ao longo das três primeiras temporadas do anime, nos poucos momentos em que Eren conseguia deixar a emoção de lado e parar para pensar, ele provava que era inteligente, habilidoso e praticamente imbatível.

Eren é provavelmente o personagem que mais demorou para conseguir superar seus defeitos e fraquezas e progredir, mas nessa quarta temporada, ele finalmente conseguiu atingir todo o seu potencial, e está provando porque é o protagonista da história.

Foi lindo assistir a luta dele contra o Titã Martelo de Guerra e o Mandíbula e vê-lo com todas as cartas na mão, vê-lo ele finalmente conseguir fazer tudo o que sempre soubemos que ele era capaz.

Foi lindo ter com Eren a mesma sensação que temos com Levi, Mikasa e Reiner de que a luta já acabou antes de começar só por causa da presença dele.

Foi lindo e, ao mesmo tempo, apavorante.

Onde antes ele era apenas coração, agora ele é só cabeça. Ele está frio, calculista, equilibrado, calmo e 100% focado. Nada mais o abala. Quando uma de suas estratégias não dá certo, ele analisa a situação ao seu redor sem pressa e pensa em outra.

Ele está totalmente no controle de seus poderes de titã e os utiliza de forma implacável. Sua única preocupação é libertar a Ilha Paradis das garras do opressor, e está disposto a tudo para alcançar seu objetivo, não importa quanto sangue tenha que derramar pelo caminho.

Todos estão mudados

Nosso bebês ainda na época da inocência

O mesmo pode ser dito de todos os outros personagens. É possível ver o quanto cada um modificou só pela expressão.

Eles não tem mais o mesmo brilho e esperança no olhar de antes. Estão todos muito mais sérios e focados, adquiriram a mesma expressão dura que estamos acostumados a ver em Erwin e Levi.

Apesar de se mostrarem abalados por suas ações e não expressarem qualquer tipo de satisfação ao matar pessoas, eles já aceitaram que o inimigo não são mais os titãs – monstros irracionais para os quais o extermínio era obviamente a resposta correta -, agora, o inimigo são outros seres humanos.

Os riscos e as consequências continuam a aumentar e, daqui pra frente, a luta acontece numa área cinza, onde a vitória – se é que podemos utilizar essa palavra – vai vir às custas de muito sacrifício e dor para ambos os lados.

Apesar de tudo isso, é impossível não vibrar ao ver Eren e as Tropas de Exploração finalmente conseguindo revidar e ver o nível de excelência que todos atingiram individualmente e como um grupo. Todas as perdas e sacrifícios que sofremos junto com eles valeram a pena.

Assim como Eren, eles estão praticamente imbatíveis.

Sempre que o inimigo acha que tem a vantagem, que a batalha está ganha, eles viram o jogo, demostrando que, agora, eles é quem estão dando as cartas. Eles estão sempre 10 passos a frente e vão derrubando todas as formas de contra-ataque dos marleyanos uma a uma.

Tudo isso regado a uma trilha sonora musical maravilhosa que simplesmente não me deixa viver.

Preocupação com a história e com os fãs

As Tropas de Exploração oferecendo seus corações

Todos os momentos que citei ao longo do texto só têm o efeito que têm pois foram sendo cuidadosamente construídos e elaborados ao longo de anos e não acontecem de forma gratuita, eles dizem muito sobre a jornada de todos os personagens, são dignos de todos eles e avançam a história.

Como falei no início do texto, em uma época em que a tendência parece ser fazer de tudo para ridicularizar os fãs, essa foi uma mudança muito bem vinda.

Aqui, quando Luke Skywalker finalmente entra em cena, não somos obrigados a vê-lo jogando fora o sabre de luz de seu pai como se estivesse numa comédia pastelão.

Não somos obrigados a ver toda a construção de Daenerys Targaryen sendo completamente destruída em tela por uma questão de bitches be crazy.

Não somos obrigados a ver Dean Winchester morrer empalado por um prego após 15 anos lutando até contra Deus em si e sobrevivendo.

Não estou dizendo que não é possível que o fim da história decepcione, mas, pelo menos até agora, ela vem vindo num crescente desde o começo e, na minha opinião, só fica cada vez melhor.

Pelo menos por enquanto, a sensação que tive ao assistir esses dois episódios foi a mesma que tive ao assistir Vingadores quando o Capitão América chega na estação de trem para salvar Wanda e Visão, quando levanta o Mjolnir, quando Thor chega em Wakanda.

Pelo menos por enquanto, a preocupação em dar aos fãs, aos personagens e a história em si a recompensa que eles merecem é clara.

É obvio que essa história não terá um final feliz no sentido Disney da palavra, mas tudo indica que, assim como Breaking Bad, Dark e outras grandes histórias que tiveram fins de respeito, ela também vai ter um final digno de tudo o que foi construído ao longo de tantos anos.

Oremos!

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Melissa Piroutek

Tradutora e cineasta formada em cinema pela Faculdade Anhembi Morumbi desde 2010. Apaixonada por cinema desde criança, sócio-proprietária, produtora, diretora e roteirista da produtora independente Best Team Productions.

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