Kant, Nietzsche e Scooby-Doo Acreditam em Você

Vivemos tempos problemáticos em diversos campos da sociedade. Mas hoje, que tal uma reflexão aproveitando o hype de um dos problemas mais irrelevantes do ano na internet?

Tempos atrás, o colunista Chico Barney criticou a qualidade dos filmes de Scooby-Doo, do início dos anos 2000, após vê-los entrarem no catálogo da Netflix e alcançarem o Top 5 nos conteúdos mais assistidos da plataforma. A internet se revoltou com o colunista e debates dos mais diversos popularam o Twitter, quase todos em defesa dos filmes.

Aqui, não falaremos sobre a qualidade das obras, mas sobre a essência do personagem e o porquê de Scooby-Doo se dar tão bem com todas as gerações.

E vamos um pouco além da mensagem mais óbvia – a de que os monstros são sempre os seres humanos – buscando na filosofia uma lição do dogue alemão mais amado das telinhas.

Scooby-Véio tem credibilidade pra te ensinar algumas coisas sobre a sua capacidade de grandeza. Quem viu o filme, sabe.

Quando pequenos, alguns de nossos piores pesadelos são aqueles em que monstros nos visitam, fazendo suas monstruosidades e nos assustando a ponto de termos que invadir o quarto da mãe buscando amparo.

Ah, se fôssemos tão corajosos ou soubéssemos lidar com o medo de forma tão divertida quanto Fred, Daphne, Velma, Salsicha e Scooby-Doo, nossos companheiros de mistérios da manhã antes de irmos para a escola.

Como alguém se torna destemido? Como alguém entende inteiramente sua função num grupo ou suas qualidades diante uma adversidade? Como se questiona um medo? Como ter a calma necessária para tentar entender o que nos assusta? Como não se mijar todo quando nossos piores temores ameaçam se tornar realidade?

Immanuel Kant foi um filósofo prussiano, autor de uma vasta obra que questiona a política, o pensamento racionalista, as formas de governo e procurou determinar os limites da razão humana. Uma de suas frases mais conhecidas é “To be is to do“, que traduzido fica “Ser é fazer”.

Friedrich Nietzsche foi um filósofo e poeta prussiano cuja obra – também vasta – busca questionar valores ocidentais como Deus, Sentido, Verdade, Beleza, Produção e Justiça, exigindo que o leitor busque a origem desse valores ao invés de apenas aceitá-los. Uma de suas frases mais conhecidas é “To do is to be“, que traduzido fica “Fazer é ser”.

Então, segundo Kant, o que somos é o que fazemos. Se fizermos monstruosidades, somos monstros como os vilões dos episódios de Scooby-Doo.

Mas Nietzsche diz que só fazemos se formos, o que complica um pouco as coisas porque monstros não existem na vida real. Scooby e seus amigos nos ensinaram que os monstros, na verdade, são sempre seres humanos, com medos, vontades, qualidades e defeitos, como nós.

O paradoxo do ser/fazer é resolvido pelo bordão clássico do dogue alemão que come biscoitos com seu dono. “Scooby Do Be Do”. Scooby faz, é, faz, e assim sucessivamente. Ele vence os monstros porque é bom sendo quem é e quer vê-los longe, assim como os monstros que só são desmascarados porque não eram reais, estavam fadados ao fracasso por não serem quem diziam ser.

Então nossos medos não existem?

Crescemos e entendemos que nossas falhas, nossos receios, nossos medos é que nos tornam fortes. Se somos fortes é porque tememos, sabemos do valor do nosso bem-estar. Então enfrentamos, nos tornamos destemidos porque é quem somos.

Não importa se dirigimos uma van descolada, se somos grandes líderes, investigadores, malucos-beleza ou se temos um cachorro. O que importa é que, apesar do que temos ou deixamos de ter, somos e fazemos.

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Tico Menezes

Professor, escritor, roteirista e mochileiro de páginas de livros e HQs. Dentre os ares que respira, cinema é um dos mais saudáveis.

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