NETFLIX | Por que o monstro ERIC tem a voz do Benedict Cumberbatch?

Eric, a nova minissérie da Netflix estrelada por Benedict Cumberbatch ficou entre os TOP 10 Brasil dos mais assistidos. A história é sobre um garoto de nove anos que desapareceu a caminho da escola.

Por essa sinopse, pode até parecer uma história “comum”, mas ERIC surpreende ao colocar elementos lúdicos na narrativa, além de não deixar de lado recursos valiosos, como o cenário e a fotografia.

Acima de tudo, se você assistiu ERIC e está aí pensando na série e em como ela te impactou, no artigo de hoje fiz uma análise da história e em como ela diz muita coisa sobre nossa sociedade atual.

Apresentando o universo de Eric

ERIC é uma criação da Abi Morgan, em colaboração com a Netflix, mais conhecida por escrever The Split e The Hour.

Em entrevista, ela disse que a inspiração da série veio de vários lugares, um pouco de sua própria vida, já que ela foi babá em Nova York na década de 80, além de um caso real que aconteceu na época: o desaparecimento do menino Etan Patz.

Posteriormente ao assistir a série, senti que a todo momento os adultos estão se esforçando para construir um mundo melhor para as crianças. Existe um claro contraste entre o programa infantil da história e o “mundo real” (vou me aprofundar mais quando falar do cenário) onde um se contamina com o outro.

O protagonista é um titereiro. Seguindo aquele estereótipo de gênio não compreendido, complicado; mas com um talento e um trabalho muito notável. Ele é o criador de um programa infantil muito famoso onde os protagonistas são bonecos.

O ator Benedict Cumberbatch, com sua capacidade de criar vozes, foi essencial para a série.

Por exemplo, durante os episódios, entendemos todos os problemas do personagem, o Vincent; ela fala palavrões, bebe muito, não cuida da própria aparência e é desleixada em suas relações: tanto com sua mulher quanto com seu filho, o Edgar. 

Para mim, o programa “Bom Dia de Sol” é o que o Vincent externou de mais puro que ele ainda possui; é um fragmento de esperança que ele não deixou que a vida tirasse dele.

Por outro lado, as pessoas têm visões diferentes do personagem. Porque uma coisa é o que você acha que é, como você se vê; outra coisa é como as outras pessoas te enxergam.

Para os pais do Vincent, ele é um garoto problemático, irrecuperável; para sua esposa, a Cassie, Vincent é a memória de tempos bons que passaram; e para o seu filho, o Edgar, Vincent é um monstro.

Mas não qualquer monstro, um monstro que tem bondade dentro dele, que pode ser muito educado e formal, mas que de cara assusta por sua aparência. Para o Edgar, seu pai é o monstro ERIC.

Como o Edgar fala pouco, é mais introspectivo, sua maneira de expressar é o desenho e, nesse caso, criar um alter ego para o seu pai. E como era de se esperar, a voz do monstro é do Benedict Cumberbatch.

Os cenários na minissérie Eric da Netflix

A vida do Vincent se traduz também no ambiente. O cenário da cidade suja, barulhenta, cheia de lixo, com pessoas em situação de rua, contrasta com o “Bom Dia de Sol”. E é aí que uma das grandes ferramentas da narrativa aparece: o cenário.

A boate, a cidade em si e o pátio subterrâneo do metrô, representam a corrupção da vida adulta.

E mesmo assim, os adultos se esforçam para que o programa infantil dê certo, porque mesmo vivendo no pessimismo, a sociedade sempre quer dar esperança para as crianças.

Outros dois pontos que me chamaram atenção nesse tópico do cenário.

Em primeiro lugar é que os adultos, mesmo em dias péssimos, ou sendo pessoas ruins, como o Lennie, constroem o significado do “Bom Dia de Sol”. Ou seja, o mundo real, sujo, frio e mesquinho, construindo algo bom.

Ao mesmo tempo, que uma criança pode representar uma ponta de esperança, como no último episódio, onde, depois da “limpeza” desumana que a prefeitura fez no pátio do metrô, a única coisa que ficou de pé foi justamente a parede onde Edgar tinha desenhado sua vida.

Não se deixe levar pelas aparências. Uma pessoa em situação de rua pode fazer mais por uma criança do que o diretor de um programa infantil para a TV.

Inclusive, pessoas morando nas instalações subterrâneas de Nova York existem de verdade. O Caso virou um documentário chamado Dark Days do Marc Singer.

Ele morou com essas pessoas por alguns meses e decidiu gravar esse documentário para mostrar a realidade em que elas viviam. Durante a gravação, a prefeitura ameaçou usar a força para tirar todos de lá. Infelizmente este documentário nunca chegou aqui no Brasil de forma oficial.

Em segundo lugar, me chamou atenção no cenário da série foi o local onde Edgar desenhou o seu mapa. Ele foi desenhado na parede escura do porão do quarto do zelador, isso diz muita coisa. E detalhe, para acessar o local, precisa abrir um portão de ferro.

É como se a história dissesse para gente que em um mundo tão horrível como aquele, o lúdico, a inocência e até os segredos de uma criança estão guardados bem fundo.

Além do fato que foi o próprio Edgar que escolheu aquela parede para desenhar, mesmo com nove anos ele entendeu que algumas coisas precisam ser guardadas bem fundo.

Eric e a sociedade

Em resumo, a Netflix conseguiu que Eric fosse mais do que um pai na busca por seu filho perdido; ou em como um pai precisou aceitar a maneira como seu filho o enxerga para se reconectar com ele. ERIC é sobre a luta incessante dos adultos para preservar o que existe de mais valioso: a inocência das crianças.

Em uma sociedade dividida e dominada por planos, esquemas e corrupção, a única coisa em que ainda nos unimos para fazer é proteger os inocentes da crueldade da vida adulta.

Conheça nossos outros vídeos de análise nessa playlist que separei para você!

Picture of Albert Hipolito

Albert Hipolito

Criador do Por Dentro da Tela. É Radialista e nas produções cinematográficas sempre está envolvido na arte. Tem em Pokémon e em Star Wars suas lembranças vivas da infância.

Posts Relacionados

Novidades

Podcast

Redes Sociais

Rolar para o topo