Crítica | “Um Pai para Lily” é o que a gente precisa assistir

Um Pai para Lily é um dos melhores filmes que vi esse ano. E o que impressiona ainda mais é que este é o trabalho de estreia da diretora e roteirista Tracie Laymon para o cinema. Essa história é tocante e equilibrada, além de ter um roteiro bem estruturado.

A jovem Lily (Barbie Ferreira) aparenta ser uma pessoa otimista e feliz, mesmo quando sua história de vida está mais para uma tragédia. Submersa em uma rotina de solidão, abandono e egocentrismo por parte do próprio pai, ela, sem “querer” faz uma amizade inesperada com um homem chamado Bob Trevino (John Leguizamo).

Mesmo “sabendo” para onde, provavelmente, o enredo estava caminhando, a narrativa, de forma bem eficaz, conseguiu conduzir o espectador por sentimentos universais. De fato, se identificar com a protagonista é fácil.

Me arrisco a dizer que este filme será um acalento para pessoas solitárias e uma homenagem às amizades inesperadas e improváveis que a vida constrói.

Uma história coerente

Toda cena em Um Pai para Lily cumpre uma função na história. Ou seja, não tem tempo de você se distrair com outra coisa. Ou a gente entende um pouco mais da relação dela com o pai, ou como sua amiga se sente exilada da vida de Lily, ou vemos a construção de uma amizade improvável.

Interessante destacar que, mesmo tendo a oportunidade de contar toda a história pregressa da personagem, Tracie Laymon decide não o fazer, nos mostrando só uma impressão emocional dessa backstory. Pelo contrário, vamos conhecendo a protagonista através dos diálogos e de suas interações com os personagens.

O resultado disso são diálogos interessantes, como se a todo momento você estivesse investigando através das palavras que saem da boca dos personagens alguma pista do passado. Lily é uma mulher que sofre, mas ao contrário do que diz a intuição, ela não se apresenta como triste.

Isso é comum na realidade. Muitas vezes nos deparamos com pessoas gente boa, amigas, sempre sorridentes, mas nunca imaginamos a barra que elas estão segurando. Existem muitas razões para estas pessoas construírem essa personalidade, no caso de Lily é porque ela teme, acima de tudo, ser rejeitada.

E tem um momento muito claro no filme em que a protagonista se depara como é um relacionamento não tóxico (na discussão da lanchonete com Bob Trevino). Por aí entendemos a fórmula que resultou no estado emocional de Lily:

Rejeição + relacionamentos tóxicos = uma pessoa prestes a implodir

Sem esses personagens não existiria história

Um relacionamento é uma via de mão dupla.

Mas nem tudo é tragédia. Um “refresco” nessa rotina é sua amizade com Daphne (Lauren ‘Lolo’ Spencer). Com Daphne, Lily conversa sobre tudo, elas criam um espaço seguro para ambas. Sabemos que nenhum relacionamento é perfeito, mas nessa amizade entendemos que é possível ter uma solução para extravasar de vez em quando.

Com um enredo tão ancorado nas relações entre os personagens, seria de crucial importância que o elenco desse conta do recado. John Leguizamo é, sem dúvida, um suporte basal para este filme. Essa força está sendo dividida com Barbie Ferreira.

De um lado, Leguizamo adota um jeitão único de pai acolhedor. Seu personagem é justo, profundo, no sentido de ter sua personalidade e hobbies explorados na história, e até um pouco ingênuo. Já Ferreira traz uma luz em seu rosto. Sua personagem a todo momento tenta ser positiva, mesmo quando a fotografia do filme transmite uma atmosfera melancólica, às vezes.

Um Pai para Lily é um filme com muitas camadas. Você pode querer se prender aos personagens e perceber como pessoas assim permeiam sua vida. Ou então, podemos analisar como amizades são complexas e precisam de atenção e carinho, como em um relacionamento amoroso, por exemplo.

Para mim, esse filme consegue, de forma específica, atingir pessoas que pouco são representadas no cinema, mas, ao mesmo tempo, falar em uma linguagem universal para aquelas almas sozinhas, solitárias, abandonadas que tiveram a sorte de encontrar amigos para chamar de família.

O filme também é uma homenagem da diretora a seu próprio pai, que lhe apresentou ao basquete e ao cinema; e a seu animal de estimação, Charlie.

Concluindo, Bob Trevino Likes It (título original que é um aceno ao enredo) é um filme empático. Essa obra olha para seu público reconhecendo suas dores e, ao mesmo tempo, acolhendo-as. Portanto, um grande filme que precisa ser assistido!

Um Pai para Lily vai estrear dia 1o de maio nos cinemas.

*O Por Dentro da Tela teve acesso antecipado ao filme e agradece à Synapse Distribution*

Foto de Albert Hipolito

Albert Hipolito

Criador do Por Dentro da Tela. É Radialista e nas produções cinematográficas sempre está envolvido na arte. Tem em Pokémon e em Star Wars suas lembranças vivas da infância.

Posts Relacionados

As polêmicas do Oscar 2025

Vamos fazer um exercício de imaginação… imagine comigo que a Dinamarca decide fazer um filme biográfico sobre o Pelé. Para

MELHORES FILMES DO ANO | #PODCAST

Quem tem um relacionamento secreto com o ator Timothée Chalamet? E por que um dos participantes se assustou no cinema?

Novidades

Podcast

Redes Sociais

Rolar para o topo