Ainda Estou Aqui tem chances de ganhar o Oscar de Melhor Filme Internacional?

Ainda Estou Aqui tem chances de ganhar o Oscar de Melhor Filme Internacional?

Sabemos que muito provavelmente Emília Perez estará fora do páreo, mas e outros filmes?

A Garota da Agulha

Inscrição oficial da Dinamarca para a categoria ‘Melhor Longa-Metragem Internacional’ do 97º Oscar em 2025.

Na lista de hoje vou começar falando do filme dinamarquês A Garota da Agulha.

A história é sobre uma jovem mulher que fica desempregada e grávida. Ela então se aproxima de Dagmar, uma senhora que opera uma agência de adoção clandestina, mas a descoberta de um segredo acaba repercutindo em todo o país.

A Garota da Agulha é um filme diferente dos quais geralmente estamos acostumados a ver; e isso é muito bom!

Começando pelo fato de ser em preto e branco. O que geralmente é uma característica que afasta as pessoas, aqui entendemos como esse aspecto do filme é extremamente importante para a narrativa.

Ou seja, o filme ser assim ajudou o diretor a contar essa história. Primeiro que pra ele tirar as cores do filme é como uma “viagem no tempo”, um artifício que ajuda a audiência a estar num ambiente antigo.

E também o recurso de luz e sombra foi muito bem utilizado para criar, muitas vezes, um ambiente hostil e assustador em certo ponto.

Outra coisa que me chamou a atenção foi a cena com o médico. Quando a gente vê aquele exame causando aversão, entendemos imediatamente que era assim que as coisas eram feitas no começo do século passado.

O discurso presente em A Garota da Agulha é bastante relevante. Ao ver as situações que a jovem Karoline se mete, percebemos que seus problemas não são muito diferentes de hoje em dia. Ainda mais quando o filme é baseado em fatos.

Mas o que eu não gostei tanto assim foi o ritmo. Essa questão do ritmo acredito ser uma das grandes discussões do cinema atualmente, justamente porque essa mídia precisa concorrer com mídias atuais que foram projetadas para consumir a nossa atenção o tempo todo.

Apesar de ser um grande filme, A Garota da Agulha serve a um público específico, e por isso, por esse contexto, acredito que não chega com grandes forças para tirar da gente, ou melhor, de Ainda Estou Aqui o Oscar de Melhor Filme Internacional.

A Semente do Fruto Sagrado

O filme foi filmado em segredo, produzido com financiamento de várias empresas na França e na Alemanha.

Importante usar essa palavra, “contexto”, porque ele é o fator mais importante no Oscar. Nem sempre o melhor filme ou a melhor atriz vai ganhar, mas sim o contexto em que as candidaturas estão inseridas.

E é por isso que esse filme aqui é o que mais me preocupa!

A Semente do Fruto Sagrado conta a história de um pai de família que está dividido entre o dever de seu trabalho e a sua balança moral. O problema é que o Irã está passando por momentos difíceis que estão influenciando a paz dentro de seu próprio lar.

Quando eu terminei de ver esse filme, confesso que as minhas esperanças para que Ainda Estou Aqui ganhasse o Oscar de Melhor Filme Internacional diminuíram um pouquinho.

Mas antes o tal contexto.

O Irã é uma teocracia, ou seja, o governo pauta suas decisões, suas leis e sua governabilidade na religião.

Isso não é uma novidade propriamente dita. A história recente do Irã mostra que o país sempre foi muito resistente ao sistema democrático ocidental, muito por conta da cultura que se choca diretamente com a religião.

Não é como se no futuro a gente pudesse ver uma mudança ou até um afrouxamento nas leis da fé. Isso, aparentemente, parece uma possibilidade, mas quando isso se mistura com a política e com as complicadas relações internacionais da região, tem uma galera se volta ainda mais para o radicalismo religioso pra proteger seu estilo de vida.

Atualmente o Irã tem passado por vários protestos populares com muita repressão por partes das autoridades e por decisões, supostamente, anti humanitárias, que ferem o Tratado Internacional dos Direitos Humanos.

Além disso, o governo monitora pesadamente a opinião de figuras proeminentes do país. Um exemplo disso é o próprio roteirista e diretor de A Semente do Fruto Sagrado.

Mohammad Rasoulof estava sob liberdade provisória do estado, aguardando julgamento. Ele então iniciou a produção desse filme, mesmo assim, fez todas as filmagens em segredo!

E quando o Estado o chamou para depor, ele destruiu sua tornozeleira eletrônica e fugiu do país a pé. Foi pra Alemanha e pediu asilo político que foi concedido.

As filmagens foram contrabandeadas do Irã pra Berlim e lá ele finalizou sua obra.

Em Cannes, o diretor levou para o evento as fotos de dois atores do elenco principal para denunciar que eles estão proibidos de deixar o Irã.

Esse contexto já é poderoso demais, somado a um filme que não usa a subversão de maneira frenética.

Análise de ‘A Semente do Fruto Sagrado’

A Semente do Fruto Sagrado tá muito próximo do estilo slow burn. Aos poucos vamos junto com as personagens se revoltando contra o cenário atual. Mas ao contrário do filme anterior, rapidamente somos sugados para o cotidiano de uma família classe média do Irã.

Então no filme tem o pai, o Iman, a mãe, que é a Najmeh, e as filhas Rezvan e Sana.

As filhas desde o começo simpatizam pela causa mas não se expressam muito por temer o pai.

Mas quando o inevitável acontece, que são os protestos influenciarem diretamente as filhas, a mãe faz todo um esforço como um poder apaziguador.

O filme a todo momento, de modo sutil, sugere que algo grave vai acontecer.

O problema é que o opressor não quer saber se você é contra 100% ou 1%, ou até 0%, se esse poder dizer que você está errado e em dívida: ele vai te cobrar!

E é isso que A Semente do Fruto Sagrado mostra, que muitas vezes mesmo sem querer se envolver o conflito vem até você; e aí é você ou eles.

E comparando esse filme com o Ainda Estou Aqui, sinto que esse filme tem mais apelo.

Eu acho que o filme brasileiro é muito bom, mas o contexto e a história em si de A Semente do Fruto Sagrado coloca ele, pelo menos pra mim, como o grande concorrente do filme da Fernanda Torres.

Emilia Pérez tem chances?

Mesmo sendo um filme ruim, Emilia Pérez ganhou o Globo de Ouro, o Critics Choice Awards e o Bafta.

Sobre Emilia Pérez eu já falei minha opinião no último artigo, mas assim, se você sabe do que tá acontecendo, toda a campanha do filme derreteu depois das polêmicas.

E Ainda Estou Aqui também foi indicado na categoria de Melhor Filme, um feito inédito para o Brasil mas que acumula pessimismo. 

As nossas melhores chances estão nas categorias de Melhor Atriz e de Melhor Filme Internacional.

Em melhor filme, O Brutalista, Um Completo Desconhecido e Conclave estão na frente do Brasil, segundo as especulações. E Anora hoje é o grande favorito para receber o grande prêmio da noite do Oscar.

Flow

Como o orçamento do filme era tão apertado, não há cenas deletadas do filme. Cada cena produzida está no corte final.

E não menos importante temos uma animação indicada a Melhor Filme Internacional.

Em Flow acompanhamos a vida de um gatinho que depois de ver seu lar destruído, terá que unir forças com outras espécies apesar de suas diferenças.

É um filme que tem chamado muita atenção, principalmente depois de ganhar o Globo de Ouro. Ele também tem acumulado elogios, tanto do público como da crítica especializada.

Ele foi a escolha da Letônia para o Oscar e conseguiu duas indicações: Melhor Filme Internacional e Melhor Animação.

O diretor de Flow em sua filmografia fez outras animações que parecem ter o mesmo princípio: sem diálogos, cenários contemplativos e personagens diferentes que encontram alguma forma de se conectarem.

Aqui isso não é diferente. As diferentes personalidades dos animais que se juntam ao gato se misturam e revezam nossa atenção: hora na dinâmica entre os personagens, hora nos cenários.

É um filme com orçamento muito baixo para os padrões de Hollywood e foi feito inteiramente num software gratuito. Então me parece que a própria produção da animação também é um discurso.

Uma curiosidade é que os sons dos animais foram captados de espécies reais, com exceção da Capivara que foi usado um camelo bebe por combinar melhor com a personalidade do personagem na história.

Flow tem essa capacidade de se comunicar com a subjetividade de cada um, ou seja, cada um vai enxergar um aspecto diferente na obra.

Apesar de tudo isso eu não gostei de Flow. Eu fiquei na verdade mais curioso por saber mais desse mundo misterioso em que os animais estão inseridos do que na história em si.

Por exemplo, uma animação que não tem diálogos e que eu adorei foi A Tartaruga Vermelha, que inclusive tem análise sobre esse filme aqui no site.

Conclusão

De modo geral, como obra e levando em consideração o contexto atual, acredito que Ainda Estou Aqui é o favorito para levar o Oscar de Melhor Filme Internacional esse ano. Mas se o prêmio for para A Semente do Fruto Sagrado eu não me surpreenderia.

Mas quero saber de você, da lista de hoje qual seu filme favorito? Deixe nos comentários!

Assista também nossos vídeos analisando filmes:

Picture of Albert Hipolito

Albert Hipolito

Criador do Por Dentro da Tela. É Radialista e nas produções cinematográficas sempre está envolvido na arte. Tem em Pokémon e em Star Wars suas lembranças vivas da infância.

Posts Relacionados

As polêmicas do Oscar 2025

Vamos fazer um exercício de imaginação… imagine comigo que a Dinamarca decide fazer um filme biográfico sobre o Pelé. Para

MELHORES FILMES DO ANO | #PODCAST

Quem tem um relacionamento secreto com o ator Timothée Chalamet? E por que um dos participantes se assustou no cinema?

Novidades

Podcast

Redes Sociais

Rolar para o topo