Como o figurino de uma personagem comunica sua condição psicológica? É em busca desta resposta que analisei o filme Adoráveis Mulheres (2019).
Escrito e dirigido por Greta Gerwig, Adoráveis Mulheres conta a história das irmãs March. O filme é baseado num livro escrito por Louisa May Alcott.
Aqui foquei na personagem principal, Joshephine. E em como o seu figurino transmitiu seu estado emocional.
A partir daqui teremos spoilers do filme!
As cores do figurino
O filme começa com Jo indo até uma redação de jornal para vender uma história.
Repare que as suas roupas são de cores escuras, como se ela quisesse se misturar com o ambiente dominado por homens que usam preto.
E isso diz sobre seu estado de espírito atual.
Por exemplo, quando Friedrich lê o que Jo está escrevendo e critica seu trabalho, ela não gosta dos comentários. Por sua própria reação podemos entender que ela está fechada emocionalmente, não aceitando visões exteriores.
Ela está intransigente, igual ao chefe da redação da primeira cena. E a cor da blusa dela é azul.
Para mim, o azul marca esse ponto da vida de Jo, onde ela busca se comportar como as pessoas de Nova York; buscando o sucesso na vida profissional.
Já quando somos levados ao passado. Jo e sua irmã Meg estão se preparando para ir a um baile.
O vestido da personagem é vermelho. Mostrando como a jovem Jo é mais extrovertida e movida por sua paixão, por seu ideal.
Outro figurino que quero destacar é o seu casaco verde. Para mim ele significa as boas lembranças do passado.
Repare que ela aparece com ele no Natal, e depois, no presente, ela o veste para finalmente escrever seu livro em homenagem a sua irmã Beth.
A diretora soube muito bem equilibrar dois momentos da vida da personagem. Mostrando como ela chegou no presente para depois entendermos, o que ela deve fazer para superar sua problemática de caráter.
O que é “problemática de caráter”?
Todo protagonista deve ter no mínimo uma problemática de caráter que ele, ou ela, vai superar ao longo do filme.
Em Adoráveis Mulheres, a problemática da Jo é em não enxergar que pode existir um equilíbrio entre a vida amorosa de uma mulher e sua vida profissional.
Podemos achar que ela não dá a mínima para o casamento, mas depois descobrimos que ela se importa e procurava ser amada. Mas tinha medo de que sua outra paixão, que é escrever, fosse sufocada pelo matrimônio.
A Jo só repara que tem um problema, depois de refletir sobre sua recusa ao pedido de Theodore.
Nessa cena ela está com um vestido de tom azul, ou seja, ela está focada em ascender como escritora. Mas lembre dos detalhes.
Por baixo do vestido azul há um vermelho. Isso é a Jo escondendo seus sentimentos. Inclusive o lenço em seu pescoço, como se ela estivesse sendo sufocada.
Ai lá no final quando ela conversa com sua mãe sobre o pedido de Theodore, ela entendeu que estava prendendo seus sentimentos. E quando ela decide voltar atrás, é tarde demais.
É aprendendo na prática que ela enxerga uma possibilidade de equilíbrio entre se casar e ser escritora. Quer uma prova que ela entendeu isso?
Na penúltima cena, quando todos já estão reunidos em casa, ela aparece vestindo um colete azul e um vestido vermelho.
Aí o Friedrich vem visitá-la, e ela se lança, motivada pela família inteira, ao amor.
E depois vemos que ela conseguiu ser escritora e viver um amor verdadeiro.
Créditos finais
Não é bem legal quando pegamos esses detalhes nos filmes? Parece que o filme vai ganhando camadas.
E se você quer ver mais destas camadas no cinema, assista nossa playlist especial de análises!
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Assista também o vídeo que fizemos sobre este assunto:
