O Disney+ deu início a suas séries da Marvel com o pé direito.
Eu confesso que já estou um pouco saturada do gênero de super-heróis. Apesar de nunca ter me interessado por graphic novels, assim como a maioria, eu aderi de corpo e alma ao Universo Cinematográfico Marvel.
Eu esperava ansiosamente por cada novo projeto, acompanhava os painéis da Comic Con, assistia a cada trailer que saía repetidamente para depois surtar na internet com os amigos, e estava no primeiro lugar da fila na noite de estreia de cada um dos filmes.
Apesar de gostar da maioria dos longas e sempre me divertir com eles logo que os assistia, a verdade é que já faz algum tempo que o encanto passou.
Dos 23 filmes que já foram lançados, hoje em dia, eu acho a maioria muito parecidos uns com os outros e incrivelmente esquecíveis. Com exceção de algumas joias raras que eu poderia assistir em loop, eu duvido que qualquer um deles passe no teste dos 15 anos.
Apesar disso, eu sigo acompanhando cada novo projeto, só não mais com o mesmo entusiasmo e já sabendo que não devo esperar muito.
Foi com essa energia que comecei a assistir WandaVision e contra todas as minhas previsões, é com muita alegria que eu digo que essa é uma das que vai entrar para a lista de joias raras.
Pelo trailer que vimos há alguns meses já dava para perceber que seria uma série muito peculiar e que iria tentar fazer algo diferente, fora da caixinha, o que pode dar muito certo ou muito errado.
Nesse caso, deu muito certo.
*spoilers leves para os episódios 1 e 2 de WandaVision a partir daqui
Sitcom com suspense, será que dá certo?
Os dois primeiros episódios são em preto e branco e apresentam o mesmo formato de sitcoms dos anos 50 e 60 como A Feiticeira, Jeannie é um Gênio e I Love Lucy.
A série abraça o formato em sua totalidade sem medo e o resultado é muito engraçado – me peguei rindo alto mais de uma vez –, absolutamente encantador e, por incrível que pareça, um tanto quanto… assustador?
Eu já expliquei o elemento sitcom que aparece no título do artigo, agora, vamos à “Além da Imaginação”.
Você deve estar se perguntando como é possível que essas duas coisas funcionem juntas e WandaVision chegou para fornecer essa resposta e nos dar algo que eu nunca imaginei que precisava, mas que não sei como vivi sem por tanto tempo.
Apesar desses dois primeiros episódios não fornecerem nenhuma explicação sobre a situação peculiar em que Wanda e Visão se encontram, eles nos dão algumas dicas de que está tudo acontecendo na cabeça de Wanda.
Ainda não ficou claro quanto controle ela tem sobre tudo e o quanto daquilo foi criado por ela, mas dá para perceber que ela tem alguma influência sobre essa realidade imaginária e não parece querer sair dela.
Nesse mundo, Visão está vivo, eles são casados e muito felizes juntos, e os problemas que têm que enfrentar se resumem a impressionar o chefe de Visão num jantar ou impressionar os vizinhos do bairro em um show de talentos para a caridade.
Além disso, nessa fantasia, Wanda sempre consegue ajudar Visão, ou seja, é o extremo oposto da vida real onde ela é obrigada a matar a pessoa que mais ama para salvar o mundo e, mesmo assim, o vilão sai vitorioso no final.
É fácil entender por que Wanda não quer sair dessa realidade e a série é executada de forma a colocar o espectador no lugar dela, pois, nós também queremos ficar ali. A narrativa é feita de forma tão deliciosa e agradável que, assim como Wanda, eu também comecei a entrar em pânico quando sinais eram apresentados de que alguma coisa estava errada.
Mas como em toda fantasia, uma hora a realidade começa a bater na porta e é nesses curtos momentos, em que Wanda começa a questionar o ambiente a sua volta, que as coisas ficam um tanto quanto sinistras. Daí a minha menção a “Além da Imaginação”.
A forma como esses momentos são executados e inseridos na narrativa utiliza o mesmo estilo da série antológica que fez tanto sucesso na década de 60 e que conseguia criar momentos realmente perturbadores como poucos outras.
Outra referência que podemos fazer para a forma como esse suspense é construído é Jordan Peele. Assistam a cena do jantar no primeiro episódio e a do apicultor no segundo e depois me digam se elas não poderiam facilmente estar em Corra! ou Nós. Não vou estragar a experiência para quem ainda não viu, vou apenas dizer que o frio na espinha é real.
Talento e criatividade em todos os aspectos
O que também merece destaque são as atuações.
Como já era de se esperar, Paul Bettany (Visão) e Elizabeth Olsen (Wanda) estão impecáveis em seus respectivos papéis. Parece que eles realmente saíram de um seriado da década de 60 e a química entre eles continua a mesma.
Não posso encerrar esse artigo sem mencionar a animação de abertura absolutamente adorável que aparece no episódio 2. Fiquem atentos a ela e me digam se, assim como eu, vocês também se pegaram cantando “WandaVision!” aleatoriamente naquele mesmo tom animadinho depois de assistir.
Por enquanto, o único defeito que posso apontar é o fato de que a série vai ter apenas 9 episódios. Uma pena, pois eu não me imagino ficando cansada dessa história tão cedo. Serei obrigada a assistir e reassistir aos mesmos episódios até enjoar.
Não confirmo nem nego que já vou começar a fazer isso com os episódios 1 e 2, afinal, uma semana parece uma eternidade até o 3°.
Uma mudança necessária
Em suma, WandaVision é como uma lufada de ar fresco que veio para dar vida e energia a um gênero que há muito caiu no formulaico e previsível, provando que é possível sim realizar projetos diferentes e inovadores, e que as recompensas podem ser bem grandes quando se é permitido correr riscos e deixar a imaginação correr solta.
Não boto a minha mão no fogo, mas, se todas as outras séries do Universo Marvel que estão para chegar no Disney+ tiverem sido feitas com a mesma generosidade que essa, vem muita coisa boa por aí.