Por Dentro da Tela

Senegal no cinema de Safi Faye

Safi Faye é uma cineasta, etnógrafa e uma das principais pioneiras do cinema africano. As suas obras são verdadeiros contrapontos aos documentários etnográficos europeus que tendem a apresentar uma visão bem superficial  da África.

O cinema africano teve o seu início a partir dos primeiros anos da década de 60. Período esse que Senegal conseguiu conquistar sua independência, livrando-se então do colonialismo francês.

Sendo assim, as obras de Faye retratam quais foram os efeitos do colonialismo francês sobre o Senegal e como era a vida rural que os povos de sua vila levavam de forma fiel e realista.

Portanto, caso esteja curioso para conhecer um pouco mais sobre as obras marcantes de Faye e do impacto no cinema africano, continue lendo!

Safi Faye e o percurso no Cinema Africano

Safi Faye nasceu no dia 22 de Novembro de 1943, em Fad’jalz uma aldeia pequena de um grupo étnico conhecido como Serere, que fica na região de Sine-Salum, a 100 km ao sul de Dakar, em Senegal.

Filha de comerciantes, Safi tinha treze meios-irmãos e treze meias-irmãs. Após concluir o ensino primário em uma escola em Dakar, Faye conquistou o seu certificado de professora na Escola Normal de Rufisque, por volta de 1962.

No entanto, a partir de 1966 que Faye iniciou a sua carreira no cinema. Quando no Festival de Artes Negras onde trabalhava como anfitriã, conheceu o cineasta e etnólogo, Jean Rouch.

Desse contato em diante, Faye passou a demonstrar interesse pelo cinema de Rouch.

Sendo assim, por volta de 1970, Safi trabalhou como atriz em um filme de Jean Rouch, Petit à petit. Logo, Faye começou a ficar mais familiar  com o “cinema verdade” e algumas técnicas que serviria como influência sobre suas futuras obras.

Dois anos depois, Safi viaja para Paris com o intuito de estudar antropologia e também ingressa na escola de cinema Louis-Lumière, onde dirigiu o seu primeiro curta metragem, chamado La passante.

Essa mudança foi crucial para que Faye se tornasse uma antropóloga e cineasta. Pois, foi assim que pôde estudar melhor sobre o seu país de origem com os africanistas.

A partir de então, Safi Faye realizou cerca de 12 filmes e documentários, entre o período de 1972 e 1996. Logo, ficou famosa como a pioneira e cineasta africana.

O trabalho de Faye é muito prestigiado e algumas de suas obras, como Carta Camponesa e Fad’jal, já foram exibidos em diversos festivais de cinema ao redor do mundo, incluindo o Festival de Cannes.

Cineasta e etnóloga

Cena do filme Fad’jal (1979). Ele foi exibido em 2018 em Cannes na mostra Cannes Classics.

As obras de Safi Faye são elogiadas por seus registros reais, porém sensíveis e lúcidos, sobre a vida nas aldeias do Senegal. Em seus filmes é possível notar uma abordagem socio-antropológica. Retratando sempre os ambientes rurais, que foram as marcas deixadas pela colonização francesa, além de questões climáticas econômicas e relações familiares.

Sendo assim, os seus filmes possuem uma forte ligação com o tipo de pensamento endógeno. Afinal, os seus filmes são sempre sobre o seu ponto de vista como uma senegalesa, que cresceu dentro desse território.

Além disso, a maior parte de suas obras tiveram o apoio de organizações, como a ONU e UNICEF. Pois, a cineasta aborda temas mais sensíveis, como por exemplo, a vida e dificuldades de mulheres e crianças mais pobres das áreas rurais e litorâneas de Senegal.

Portanto, confira a seguir quais são as maiores obras da carreira de Safi Faye!

Mossane (1996)

Mossane é uma menina que tem apenas quatorze anos de idade e que vive em uma pequena vila no Senegal. Ela acaba se apaixonando por Fara, um estudante pobre que retornou para a aldeia, pois a universidade começou a fazer greve. No entanto, quando nasceu, Mossane foi prometida em casamento ao Diogoye, que está a trabalho na França.

Carta Camponesa (1976)

Essa obra narra a história de Ngor e Coumba, uma casal que vive em uma pequena vila no Senegal e faz tempo que estão tentando casar. No entanto, ambos enfrentam uma série de problemas e dificuldades para sobreviver e ficarem juntos, tendo em vista que a colheita de amendoim, a única fonte de renda, está sofrendo por causa da seca. Com um toque de ficção e realismo, a diretora busca mostrar de perto como é o cotidiano das pessoas que moram nessa vila. Além disso, ainda procura expor uma crítica à colonização francesa.

Fad’Jal (1979)

Essa obra retrata o povoado Sérère que vive em uma região de cultivo de amendoim no Senegal. Esse povo que partilha das mesmas dificuldades, busca explorar e fazer proveito da terra. Desse modo, esse documentário traz a relação entre os aldeões e anciões, transmitindo assim a história toda de uma aldeia por tradição.

Selbe (1983)

Selbe é um tipo de documentário filmado no Senegal, o objetivo desse projeto é dar foco ao papel social e a responsabilidade econômica das mulheres dentro da sociedade africana. Pois, na maioria das vezes os homens deixam as comunidades para tentar ganhar dinheiro nas cidades, enquanto isso as mulheres ficam responsáveis pela família. Sendo assim, a luta pessoal de uma mulher reflete em problemas maiores que outras enfrentam em países menos desenvolvidos.

Créditos Finais

Em suma, Safi Faye é uma cineasta, antropóloga e etnóloga senegalesa que foi a pioneira do cinema africano. Sendo então a primeira mulher africana a dirigir um filme que foi distribuído em solos internacionais, principalmente na Europa.

Ao longo de sua carreira como cineasta, Faye realizou cerca de 13 filmes. Onde em sua maioria buscava retratar aspectos ligados a cultura, políticas, gênero e economia em suas obras.

Embora seja um tanto quanto difícil encontrar a filmografia completa de Safi, vale a pena procurar para assistir para conhecer mais sobre esse movimento.

Por fim, caso ainda tenha alguma dúvida em relação ao conteúdo ou gostaria de compartilhar a sua opinião sobre, não esqueça de deixar um comentário!

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