Nós, dos anos 90 em diante, somos uma geração que acaba de vencer máximas bestas como “homem não chora” e “se você demonstrar fraqueza, vão te explorar”. A cobrança para que não falemos tão abertamente sobre nossos sentimentos diminuiu significativamente e, por mais que seja comum encontrarmos colegas e amigos com constantes crises de ansiedade e em acompanhamento psicológico por causa da depressão, nos fortalecemos após dividirmos cargas emocionais com outras pessoas. O exercício do compartilhamento de emoções é incentivado. Contanto que feito de forma saudável, é claro.
Mas hora ou outra, ficamos sozinhos novamente. Antes de dormir, antes de ir para o trabalho, depois de uma noite de festa ou no horário de almoço, pensamentos sobre como não somos capazes ou sobre a nossa falta de perspectiva para o futuro vêm com força total, prontos para nos derrubar questionando nossa própria força. E é aí que quero chegar: Não precisamos ser fortes o tempo todo e podemos permitir que esses pensamentos venham, contanto que saibamos que eles vão embora.
Vamos viajar de volta para 1984, mais especificamente para o bairro de Reseda, na cidade Los Angeles, onde se passa um pequeno grande filme que se tornou um dos maiores clássicos da Sessão da Tarde. Estamos falando de Karatê Kid: A Hora da Verdade (título ABSURDAMENTE oitentista).
Na trama, conhecemos Daniel Larusso, um garoto que se mudou de estado com a mãe e está tendo problemas na escola devido ao bullying que sofre de um grupo de babacas que fazem karatê. Quando não está sendo maltratado na escola ou tentando conquistar o coração de uma garota chamada Ali, ele passa tempo com o faz-tudo do condomínio onde mora, um senhor japonês chamado Miyagi. Eles cultivam bonsai e conversam sobre a vida. Até que Miyagi, ao ver Daniel constantemente machucado, se oferece para ensinar caratê ao garoto.
Mas o foco aqui não é a trama e sim os dois personagens principais. Daniel é explosivo, chora, ri e desabafa constantemente, como um adolescente no auge de suas emoções – afinal, é o que ele é. Miyagi é sereno, experiente, um sábio com metáforas belíssimas sobre como levar a vida. Para todos os efeitos, são opostos.
Até que, numa noite de mais provocações sofridas pelo líder dos babacas da escola, Daniel corre para a casa de Miyagi. Para sua surpresa, encontra seu mestre bêbado, chorando o aniversário da morte de sua esposa e filho recém-nascido. Destruído pelas lembranças, Miyagi não consegue se controlar na frente de Daniel, induz o garoto a beber uísque e parece não se lembrar da serenidade e sabedoria que regem seus dias.
Daniel é quem cuida do mestre e demonstra sabedoria ao não enchê-lo de perguntas e reforçar a fraqueza revelada. No dia seguinte, Miyagi está bem, sua calma voltou, mas seu olhar está diferente para Daniel. É um olhar de admiração e carinho. Ele, ora tão forte e impassível, fica mais leve e brincalhão após dividir seu fardo, mesmo que involuntariamente. Aprendeu que aprendizes também ensinam e que o equilíbrio – uma de suas lições mais importantes – só é alcançado quando permitimos que todos os nossos lados apareçam e tenham seu tempo para amadurecer.
Tudo fica bem. Aprender exige esforço e crescer dói, mas se nos permitirmos sentir ao invés de evitarmos nossa sensibilidade para manter algum tipo de controle, conseguimos enxergar o momento em que o sorriso toma o lugar das lágrimas.
Nem o Mestre Miyagi nem ninguém é forte o tempo todo. Você também não precisa ser. E tudo bem.