O documentário Lidando com a Morte vai além do seu título, mostrando a frieza do sistema com a cultura que lhe é alheia.
Dirigido por Paul Sin Nam Rigter, o filme explora de forma didática a relação entre capital e interesse social.
“Em Bijlmer, bairro multiétnico de Amsterdã, cada cultura tem seus próprios rituais relacionados à morte. Anita gerencia uma agência funerária e precisa garantir que essas práticas e cerimônias sejam respeitadas. No entanto, quanto mais se aprofunda nesse universo, mais ela percebe o quão pouco sabe sobre as diferentes culturas locais. Anita, então, passa a se questionar se a casa funerária, que reúne essa diversidade cultural sob o mesmo teto, atende às necessidades do bairro ou é apenas um empreendimento que espera conquistar espaço nesse mercado”
Os documentários, de forma geral, se baseiam num personagem forte ou numa história forte. Em Lidando com a Morte essa dicotomia é equilibrada. Fiquei tão interessado pela figura de Anita como da empresa financiadora do projeto.
No início, acreditamos numa certa “pureza” de um centro funerário multicultural. Mas com o passar do tempo vamos percebendo (e Anita também) a real intenção de tudo aquilo.
Primeiro porque fica claro que não será de graça. Segundo porque o final me fez sentir uma certa discriminação, por parte da empresa, sobre o trabalho de uma mulher. Mesmo com todo o esforço da população e de Anita, no fundo voltamos para a mesma mentalidade patriarcal, branca e capitalista.
O reconhecimento pelo trabalho passou longe no final. Isso é, no mínimo, revoltante.
O diretor é feliz ao não intervir diretamente, deixando que as pessoas contém suas histórias. É interessante perceber como Amsterdã acolhe grupos etnoculturais tão diferentes.
Lidando com a Morte nos faz refletir sobre nossas tradições e em como podemos encarar esse momento inevitável.
Lidando com a Morte, filme de Paul Sin Nam Rigter estará disponível na 45° Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Para mais detalhes acesse o site do evento.