Por Dentro da Tela

Guardiões da Galáxia e como lidamos com política

Em julho de 2014 a cultura pop foi surpreendida por um filme que trazia, dentre seus protagonistas, um guaxinim e uma árvore, ambos falantes. Os pessimistas esperavam que Guardiões da Galáxia seria o primeiro grande fracasso do Universo Cinematográfico da Marvel, os otimistas diziam que “se a Marvel fizer os Guardiões funcionarem, então eles farão QUALQUER COISA funcionar”.

É com grande satisfação que digo que a segunda opção se provou e temos um filme espetacular, repleto de humor, aventura, uma trilha sonora empolgante e nostálgica, um estilo de edição que já tem “filhos” e personagens cativantes.

Aqui se encontra o ponto da discussão de hoje: O que os personagens de Guardiões da Galáxia representam?

Mas Quem São Eles? (Juro que não é spoiler, tá?)

E cadê a política no meio disso tudo?

No roteiro do filme de 2014, esses personagens se unem sob circunstâncias nada heroicas e acabam se deparando com uma ameaça em comum: Ronan, um extremista ditador que está atrás de uma joia que lhe dará o poder de subjugar todos os seres daquele canto da galáxia.

Os Guardiões estão em posse dessa joia e precisam decidir o que fazer enquanto são perseguidos por Ronan.

É exatamente neste ponto da história que está a genialidade por trás da fantasia. Guardiões da Galáxia é um constante debate sobre a política e como ela é vista e discutida atualmente nos países democráticos.

Não vou falar sobre respostas certas, partidos ou ideologias com as quais me identifico, vou apenas brincar com as opiniões e atitudes desses personagens tão irreverentes durante o filme e como elas representam muitas pessoas que conhecemos.

Tá. Mas o que é que essa maluquice de super-herói tem a ver com política?

Então vamos lá, temos quatro pessoas diferentes discutindo a seguinte questão: Quando se tem conhecimento de que há um poder na mão do povo e sabe-se que um ditador violento está a caminho para tomá-lo, o que fazer?

Começamos com Gamora, que deixa claro que acredita que tal poder deve ser convertido em dinheiro – uma linguagem universal – para que sejam feitas mudanças de dentro do sistema vigente e impedir que a ditadura seja uma ideia remotamente considerada por alguém.

Então temos Drax, que em sua sede por vingança pelo que a ditadura fez ao seu povo, oferece usar o poder para dar o troco na mesma moeda; ou seja, combater ideias violentas com violência.

Passamos para Rocky, que decide dar o poder para quem pagar mais, ficar com o dinheiro para si, deixar que a ditadura se instale contanto que ele se mantenha numa posição superior, de privilégios e benefícios. Afinal, em sua opinião, se o sistema atual permitiu que pessoas horríveis torturassem, assassinassem e saíssem ilesas física e judicialmente desses crimes, então pouco importa quem esteja no poder.

Há, inclusive, um diálogo cômico e extremamente crítico na metade do filme, onde Rocky diz “Dê o poder a Ronan, deixe-o destruir a galáxia […] O que a galáxia já fez por você? Por que você iria querer salvá-la?”.

Ao passo em que o Senhor das Estrelas responde “Porque eu sou um dos idiotas que vive nela!”.

E nesse personagem temos uma visão política mais simplista, ele basicamente acredita que se quem tiver o poder não for destruir o mundo mais do que já está destruído, e não tentar afetar seus negócios, pois bem, que governe.

Ó nóis como sociedade pulando heroicamente atrás do poder pra impedir que genocidas possam decidir o que fazer com o nosso futuro!

Não é sem relutar que Rocky se junta aos outros Guardiões para impedir que Ronan consiga a joia. Nesse caso, o bem comum se deparou com uma ameaça real e nociva a 90% do grupo, então não houve um debate com muitos contra-argumentos.

Mas é interessante pensar como temas mais delicados e menos óbvios seriam discutidos por esses personagens. Mais interessante ainda é perceber que eles não estão muito distantes das opiniões que lemos e ouvimos diariamente em redes sociais, programas de rádio, televisão e até mesmo mesas de bar.

O aparente simplismo da sátira está na boca do povo, é opinião e vêm cheio de certezas inconsistentes. A parte mais tragicômica de Guardiões da Galáxia é que essa ameaça está acontecendo constantemente em todos os países onde a democracia existe.

O grande antagonista está à espreita no mundo real na forma de políticos cada vez mais em evidência.

Precisou a galáxia ficar ameaçada por um extremista que prometia a soberania de um só povo – com uma única cultura, cor e crença – para que pessoas diferentes aprendessem a se respeitar e se unissem para combater o que faz mal.

O que vai precisar acontecer para que nós façamos o mesmo?

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