~~ uma análise sóbria – e MUITO ESFORÇADA – de um fã que ficou empolgado demais com suas expectativas superadas! ~~
Depois de um belíssimo início de ano (ou devemos chamar de temporada?) com Wandavision e um saudável debate sobre a violência, o luto e suas consequências, a Marvel Studios acaba de concluir sua segunda série original Disney+.
Falcão e o Soldado Invernal é a continuação direta do arco dos dois personagens após os acontecimentos de Vingadores: Ultimato.
Steve Rogers, o Capitão América, deixou seu escudo com Sam Wilson confiando de que ele faria a coisa certa – sem especificar o que isso queria dizer. Bucky Barnes, o Soldado Invernal, é um homem fora de seu tempo e sem mais nenhuma conexão viva com seu passado conturbado – para dizer o mínimo.
Sam e Bucky são homens complexos em aspectos diferentes, logo, a jornada dos dois após um evento global – e a não existência durante 5 anos – promete ser emocional e interessante. Será que foi?
Ritmo e enredo

Cara… Foi!
Em seis episódios de 40 minutos a 1 hora de duração com uma fotografia surpreendente para uma obra tão pautada na ação de bastidores, a série divide bem seu tempo entre os protagonistas, as participações especiais, os coadjuvantes e os novos personagens.
Partindo de problemas mais terrenos como o Falcão ajudando sua irmã a conseguir um empréstimo no banco e Bucky fazendo terapia e “acertando” erros cometidos em sua época como o Soldado Invernal, o espectador é apresentado a uma nova abordagem do desenvolvimento de história no estilo slowburn.
Nada é corrido nesse início, muito pelo contrário, temos tempo para cenas triviais que alguns até poderiam considerar desnecessárias. Tanto é que os protagonistas nem mesmo se cruzam no primeiro episódio.
Mas logo a trama principal é apresentada, figuras antagônicas complexas são apresentadas com seus arcos e o ritmo acelera. Similar a filmes de espionagem como a franquia Missão: Impossível e – pasmem! – o ótimo As Panteras de 2019, os episódios seguem uma estrutura narrativa ágil que consistem, basicamente, em aprofundar os “vilões” (falaremos mais dessas aspas daqui a pouco), trazer personagens conhecidos do universo e incorporá-los à missão, rir da sintonia dos protagonistas e de suas diferenças e deixar um gancho interessante o suficiente para que o espectador queira dar o play no próximo episódio.
E isso não é ruim. Funciona, pois o carisma dos personagens e a força de seus conflitos são bem escritos e representados.
Como uma sessão de terapia (e aqui temos até uma cena maravilhosa de terapia em casal com Sam e Bucky!) os protagonistas vão percebendo que funcionam bem juntos, que suas diferentes perspectivas e problemáticas se encontram em algum lugar e dão origem a uma dinâmica funcional.
Coisa que é maravilhosamente explorada no capítulo 5 – uma das melhores horas do Universo Cinematográfico Marvel até o momento. Sem a ambição de arrebatar o espectador com efeitos especiais grandiosos ou a introdução de um novo favorito dos fãs, a série evolui de forma orgânica, cada episódio busca a intimidade dos personagens e entrega performances sólidas justamente por causa desse cuidado.
Os antagonistas principais são John Walker (interpretado por um surpreendente Wyatt Russel) e Karli Morgenthau (Erin Kellyman, que entrega o que a personagem precisa).
Walker é melhor explorado, com mais tempo de tela e uma resposta muito mais direta do público, visto que ele chega para “substituir” – numa substituição que ninguém pediu – o Capitão América. O personagem, mesmo que não tão complexo, expande o conceito do super soldado e da linha tênue entre o bom e o mal.
Morgenthau, por outro lado, é a emoção acima da lógica e em muito se assemelha a Killmonger, vilão de Pantera Negra. A jovem é uma revolucionária idealista cujo arco busca retratar os extremos da desigualdade social. Uma personagem que tem uma jornada relativamente previsível, mas de muito impacto nas entrelinhas.

O final da série ousa por não buscar atender às exigentes expectativas dos fãs e dar continuidade ao UCM com um discurso muito mais direto e preciso do que as metáforas da época de Steve Rogers como Capitão América.
Abraçando a mudança, a Marvel prepara o terreno para debates atuais e necessários com personagens falhos e representativos.
Pelo tempo investido, há poucos apontamentos negativos: alguns arcos são encerrados de forma abrupta e pouco satisfatória e há personagens introduzidos aqui apenas como isca para as próximas entradas do estúdio, coisa que, a essa altura do campeonato, a Marvel simplesmente não precisa.
Diferentemente de Wandavision, houve pouco espaço para teorias em Falcão e Soldado Invernal e muito mais objetividade. Coerente, o roteiro faz questão de apontar dedos para a realidade, deixando em aberto somente o que se faz necessário.

É, para o fã de quadrinhos, aquele encadernado de capa cartão que dá continuidade a uma mega saga e se torna uma das pérolas da sua estante. Daquelas obras que você não precisa revisitar, mas definitivamente vai lembrar do porquê foi marcado por ela.
P.S: A finíssima participação do Barão Zemo é de uma classe pouco vista no UCM e merece ser lembrada, mas por motivos de spoiler, vamos deixar apenas como nota de rodapé.
P.S²: O QUE FOI O ARCO DE ISAIAH BRADLEY, MEUS MARVETES? Fiquem ligados que muito em breve teremos um artigo só sobre essa história por aqui.