Doutor Estranho 2 foge do óbvio nas mãos de Sam Raimi

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura chegou com a derradeira missão de introduzir um novo conceito no Universo Cinematográfico da Marvel, mas acho que este não foi o resultado.

Escrito por Michael Waldron, a história é sobre Stephen Strange desbravando o multiverso para derrotar um “novo” inimigo misterioso. Waldron tem até uma certa experiência com histórias loucas, já que criou e produziu a série Loki.

Aqui o roteiro se sente à vontade para “brincar” com este conceito físico. O que, na verdade, já está no imaginário cinematográfico a muito tempo. É interessante ver como os super-heróis mudam em outras realidades, mas no caso de Strange, uma característica bem marcante ainda permanece.

Permanece também neste filme a forte característica da Marvel: a leveza com que se trata um tema; piadas aqui e acolá; além de uma boa dose motivacional. Tudo isso misturado com fortes doses de CGI (do inglês computer-generated imagery, é o uso de técnicas 3D usadas nos efeitos especiais em filmes).

Estranhamente, esse “suco” me caiu bem. Digo isso porque anos bebendo dessa fonte, hora outra ela causa um desconforto intestinal. O que na minha sessão, de ontem a noite, algumas pessoas não seguraram a onda e se deliciaram e se lambuzaram com o fan service (termo usado quando o filme usa uma referência que agrada os fãs).

E é por conta do fan service que eu acho que o multiverso ainda está tímido no UCM. Em Loki vimos um germe com mais potencial de mudar a Marvel do que em Doutor Estranho 2. No filme, as aparições que nos satisfazem não levam a historia para frente. É um detalhe legal? Sim, definitivamente. Levou para algum lugar? Não!

Eu esperava sair do filme extasiado com o multiverso, criando várias teorias e esperando uma coisa nova nos futuros filmes. Isso até pode acontecer, mas não será de uma forma caótica como sugeriram as conversas sobre os universos alternativos até aqui.

Mas uma coisa de nova realmente aconteceu!

A direção de Sam Raimi

Depois de 10 anos sem dirigir filmes, Sam Raimi retorna para uma produção de super-herói.

Dirigir um filme é mais do que ligar a câmera e falar “gravando” e depois “corta”. O resultado de uma produção é a visão artística de uma pessoa sobre uma história. E que visão!

Sam Raimi trouxe um frescor para o UCM (assim como James Gunn e Taika Waititi). Em entrevista, o cineasta disse que Doutor Estranho 2 foi o seu projeto mais complexo até agora. Depois de assistir, deu pra entender que essa complexidade, penso eu, não vem necessariamente da história, mas do peso em dirigir um filme da Marvel dessa magnitude.

O que, para mim, Raimi conseguiu fazer com “os pés nas costas”. Depois de um hiato de 10 anos sem dirigir longas-metragens, ele retornou ainda mais firme em seu estilo. É nítido como suas referências permeiam o filme, e o quanto ele passeia nos planos de close up.

Tem uma sequência de luta onde vemos os elementos cinematográficos se misturarem com a história. Como num filme de magia ninguém pensou nisso antes? Temos uma rápida quebra da 4ª parede (que é quando um personagem olha diretamente para a câmera e interage com o público), e na cena de luta em si uma inteligente jogada com o som.

Para quem conhece Raimi por The Evil Dead vai gostar do seu trabalho aqui. Para quem gostou de seu trabalho na trilogia Homem-Aranha, terá espaço para você aqui também.

Personagens e outros pontos

Em meio a tanta loucura, deu tempo de introduzir uma nova personagem.

O CGI é impressionante nesse filme. O desafio já estava anunciado: a viagem no multiverso é louca e tudo precisa ser crível. Mais do que dobrar a cidade, como no filme anterior, aqui o experiente production design Charles Wood precisou coordenar um trabalho hercúleo.

Apesar disto, em breves momentos os movimentos não naturais de alguns personagens nos tiram da realidade. É provável que o Oscar não venha, quem sabe?

Gosto de como os personagens são mostrados. Desde os antigos até os novos. Benedict Cumberbatch está a vontade, excelente, sem comentários. Isso vale para Benedict Wong e Elizabeth Olsen.

Dos três, acho que Olsen precisou pisar num terreno diferente. Algo que ela experimentou em WandaVision e que aqui aparece de forma mais arrasadora. Nesse ponto, lembro de uma frase da Melissa Piroutek, colunista aqui do site, que dizia mais ou menos assim: senti falta da contraparte sobre a Feiticeira Escarlate arcar com seus erros na série.

A nova personagem, América Chaves, claramente vem para crescer no UCM. Ainda bem que, se tratando de Marvel (para o bem ou para o mal), ela não será uma personagem solta. Estou ansioso para ver seu crescimento nos cinemas. Isso vale para a personagem como para, a estreante em longa-metragem, a atriz Xochitl Gomez.

Concluindo, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura acaba se tornando um ponto chave no UCM. Talvez mais pelo destino dos personagens do que pelo tema do multiverso (para isso tivemos Loki). Vale a pena assistir e “mijar guaraná” com o fan service.

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Albert Hipolito

Criador do Por Dentro da Tela. É Radialista e nas produções cinematográficas sempre está envolvido na arte. Tem em Pokémon e em Star Wars suas lembranças vivas da infância.

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