Por Dentro da Tela

Crítica: “O Território” expõe, mas não aprofunda

Você tem a oportunidade de conhecer os dois lados de um conflito, de que lado você estaria? Em O Território as respostas podem não ser óbvias.

Dirigido por Alex Pritz, o documentário mostra a sinceridade de um conflito secular no Brasil. A floresta amazônica é o último refúgio dos indígenas que, com muito esforço, tentam preservá-la.

No texto de hoje mostro como as imagens falam mais que as palavras e de como o poder da comunicação é essencial para essa luta.

O Território

Quando uma rede de agricultores brasileiros se apodera de uma área protegida na floresta tropical amazônica, um jovem líder indígena e seu mentor devem lutar em defesa da terra e um grupo isolado que vive nas profundezas da selva.

O Território mostra o conflito dos Uru-Eu-Wau-Wau com agricultores. Para quem está longe dessa realidade (assim como eu) parece “fácil” escolher um lado. Afinal, quem gostaria de ter suas terras invadidas?

A questão indígena no Brasil já deveria ser página virada. Os colonizadores roubaram, saquearam, mataram e escravizaram, sem nunca serem responsabilizados.

Com a criação da FUNAI e da lei constitucional de demarcação de terras, esse assunto já poderia ter sido superado. Mas isso não aconteceu.

O diretor Pritz abre o filme como se estivéssemos despertando em um lindo sonho, em um paraíso. Ele faz um excelente uso do Efeito Kuleshov, intercalando cenas de formigas trabalhando com os Uru-Eu-Wau-Wau.

Ele quer mostrar como eles são fortes, já que a formiga pode carregar uma grande carga. Mas também escancara o real significado do ditado popular: trabalho de formiguinha.

Além disso, ele se concentra em personagens locais. Bitaté Uru Eu Wau Wau é um jovem engajado na defesa de seu povo; Neidinha Bandeira é uma ambientalista que faz a ponte com as autoridades; e Sérgio é um agricultor que quer concretizar seu sonho.

Colocado as peças, o “jogo” parece ser jogado por pessoas maiores, explico.

O que não apareceu em O Território

Pritz escolhe não fazer um documentário investigativo que, ao meu ver, seria descobrir os verdadeiros interessados pelo avanço dos agricultores em terras indígenas.

Mas também, o cineasta não faz um filme sobre a cultura dos Uru-Eu-Wau-Wau, já que não se aprofunda nas tradições culturais do povo.

Para mim isso foi um grande desperdício. Acho que seria mais interessante uma narrativa sobre a relação histórica dos indígenas com aquelas terras. Contudo, o diretor pode ter se valido do conhecimento do público.

O documentário acerta em humanizar (o máximo que foi possível) a outra parte. Dá até para entender a demanda, mas nada justifica o desmatamento e o incêndio criminoso que o filme mostra.

Sobre isso, Neidinha diz que na superfície, parecem homens humildes que apenas desejam se sustentar, mas existem pessoas grandes por trás querendo as terras. Eu gostaria de ver mais um pouco disso.

O que me fez pensar é que também há um grupo de brasileiros que querem um pedaço de terra para viver, mas diferentes dos mostrados em O Território, estas pessoas vão atrás de grandes fazendas que descumprem seu papel social.

Não tem como não ligar estes pontos, mostrar esse conflito de interesses em diferentes grupos de agricultores evidenciaria ainda mais o preconceito e o desprezo pelos povos indígenas que um grupo tem.

Não há nada mais criminoso do que invadir e arrasar.

Conclusão

Apesar de longe, cabe a nós cobrar que a justiça seja feita e as leis observadas. Ao mesmo tempo que a rigidez das autoridades seja igual para indígenas e não indígenas. Infelizmente, sabemos que isso não acontece.

O Território mostra que a Amazônia não está sendo devastada só por motoserras e queimadas, mas também com o sangue das mortes dos povos originários.

Quero saber de você, o que você achou do filme? Deixe nos comentários!

NOTA: 4 / 5 – Bom

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