Batwoman e o controle de sua narrativa

Renovação pressupõe inovação. E novos começos buscam novos fins.

Portanto, não deveria ser surpresa quando a DC Comics anunciou que uma nova personagem do universo do Batman se tornaria protagonista de sua própria história.

Kate Kane, a Batwoman, tem um dos arcos mais célebres e intensos dos quadrinhos recentes da editora e, no fim de 2019 passou a protagonizar sua própria série de TV.

A jornada de Kate Kane cativou fãs desde o início, apesar de seguir uma estrutura segura para séries sobre super-heróis. Kate assume o manto do morcego que cuida de Gotham City, mas sua história vai muito além do combate ao crime.

A narrativa de Kate Kane

Kate é lésbica, razão pela qual foi expulsa do exército e, ao retornar para sua cidade natal após anos distante, vê no anonimato uma oportunidade de se redescobrir como pessoa.

O ato homofóbico que mudou o rumo de sua vida a tornou mais forte, mais consciente dos problemas do mundo, mais resiliente às ofensas e presunções sobre sua personalidade e a fez quebrar correntes sociais e expectativas que qualquer um pudesse criar sobre ela.

Antes de ser Batwoman, Kate entendeu sua narrativa, o que faltava era assumir o controle da jornada que narrava.

A novidade de Gotham era ter uma mulher protegendo a cidade com mais vigor, inteligência e força do que a polícia. As comparações com o Batman eram constantes até o momento em que Kate se assumiu lésbica para o povo numa entrevista com a repórter Kara Danvers – olá, Supergirl, em breve falaremos sobre você!

Kate Kane é a heroína que precisávamos na hora certa!

Daí em diante, sua jornada inovadora começou. Ser odiada por vigilantismo ou por ser uma figura pública é uma coisa; ser odiada por fazer o bem assumindo sua natureza é outra completamente diferente.

Kate renovou a luta contra o crime ao entender a mediocridade do pensamento gângster e da corrupção em Gotham; renovou sua consciência de classe ao ter contato com as pessoas mais pobres que ficavam à mercê dos mais ricos; renovou a opinião pública ao não deixar margem para interpretações errôneas sobre o que estava sendo feito pela vilã Alice; renovou ao iniciar com urgência um programa de apropriação de imóveis abandonados e moradia para cidadãos desempregados.

E inovou ao fazer tudo isso no lugar onde, por anos, um bilionário excêntrico combateu o crime somente com os punhos ao invés de olhar para quem podia ser ajudado com oportunidades.

Como dito no começo, renovação pressupõe inovação. E Javicia Leslie é o nome da novidade! Segue a leitura que cê vai entender.

Mas a narrativa de Kate chegou a um fim quando ela quis. E nada seria mais justo.

Nos bastidores da série, a atriz Ruby Rose, intérprete de Kane Kane, decidiu junto aos produtores e roteiristas que não havia muito mais a ser explorado na personagem, sua jornada teve início, meio e fim, foi inspiradora e ensinou caminhos para jovens mulheres recuperarem suas próprias narrativas.

É um caso raro e admirável no show business. Pois do fim da jornada de Kate Kane, uma oportunidade de inovação surgiu e foi abraçada por outra mulher. Sem demora, a equipe criativa da série anunciou Javicia Leslie como a nova Batwoman, a primeira protagonista negra e bissexual em um programa sobre super-heróis.

Podemos até não saber muito sobre a personagem, mas pelo que aprendemos com Kate, podemos sempre esperar o melhor, o inesperado e o surpreendente de uma mulher consciente de seu protagonismo e representatividade.

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Tico Menezes

Professor, escritor, roteirista e mochileiro de páginas de livros e HQs. Dentre os ares que respira, cinema é um dos mais saudáveis.

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