Dirigido e escrito por Jo Sol, Armugan é um filme místico. Não no sentido de mostrar magia e ações sobrenaturais, mas na essência do que é o Cinema.
Logo de cara chama atenção a imagem em preto e branco. Mas, longe de ser, pretensiosamente, um filme cult, aqui esse recurso técnico faz sentido.
“Em um vale isolado nos Pirineus Aragoneses, a lenda de Armugan faz parte do imaginário local. Ela conta que Armugan se dedica a uma profissão terrível e misteriosa que ninguém se atreve a nomear. Dizem ainda que Armugan se move pelos vales agarrado ao corpo de Anchel, seu fiel servo, e, juntos, compartilham o segredo de um trabalho tão antigo quanto a vida, tão terrível quanto a própria morte”
Instantaneamente somos jogados no universo do filme. A imersão é perceptível. Não só pela imagem, mas pela relação entre os personagens principais. Somos conduzidos de maneira muito delicada ao cotidiano simples entre Anchel e Armugan.
Estas cenas, majoritariamente sem diálogos, vão se conectar com espectadores que se encontram (ou se encontraram) no contexto dessa relação. O vínculo criado é potente.
O filme em preto e branco para mim se mostrou num sentido de abstração, ou seja, por estarmos vendo uma lenda ela se distancia da percepção “comum” que temos de produtos audiovisuais; cada vez maiores em resolução e em intensidade de cores.
Armugan desafia o público no sentido de deixar, propositalmente, lacunas para que completemos com nossa imaginação. Até agora estou pensando na cena com os potes de vidro e em como ela dialoga com a filosofia do personagem.
Esse ponto é importante também. Independente de como você se relaciona fisicamente com o mundo, sua percepção da vida se constrói de forma desassociada. Já que isso vai além dos sentidos e se baseia em suas experiências (e claro, em sua força de vontade).
Falando sobre as atuações, elas são essenciais para a trama. A experiência do ator Gonzalo Cunill aqui foi bem colocada, ele demonstra o peso do fardo que a vida impõe. Já a expressividade do ator e bailarino de dança inclusiva, Iñigo Martínez, é hipnotizante o que me fez perguntar: como ele consegue passar tudo isso no olhar?
Já a direção de Jo Sol não é preguiçosa. Cada take se mostra uma montagem bem pensada, usando os cenários (e principalmente as paisagens) para dar profundidade na tela.
Se você acha que falei pouco sobre a trama é que o filme é assim mesmo, o resultado que ele gera é tão pessoal que fica difícil explicar.
Para entender mais sobre a vida e sua relação com a morte, assista Armugan!
Armugan, de Jo Sol, estará disponível na 45° Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Para mais detalhes acesse o site do evento.