A Baleia | Algumas ideias sobre o filme (análise)

A Baleia, filme recentemente lançado nos cinemas do Brasil, tem se destacado nos circuitos de premiações. Inclusive, foi indicado ao Oscar 2023 nas categorias Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Cabelo & Maquiagem.

Quando terminei de assistir, não sabia o que sentir. Foi uma experiência tão única que precisei pensar por um tempo sobre a história do filme.

No artigo de hoje, falo sobre algumas ideias que a produção despertou em mim, bem como uma tentativa de entender aquele final.

A Baleia (The Whale)

Um professor de inglês recluso que vive com obesidade severa tenta se reconectar com sua distante filha adolescente para uma última chance de redenção.

Escrito por Samuel D. Hunter (Baskets) e dirigido por Darren Aronofsky (O Lutador, 2008), o filme é um drama que fala sobre emoções universais. O elenco conta com Brendan Fraser, Sadie Sink, Hong Chau e Samantha Morton.

O roteiro escrito por Samuel é baseado em sua própria obra anterior, uma peça de teatro de mesmo nome. Em entrevista, o dramaturgo disse que escreve suas obras sem que tenham uma perspectiva clara, sem que o público seja conduzido a uma ideia explicita.

Em outras palavras, Samuel quer que cada um seja tocado por algum aspecto de suas obras; em A Baleia isso não é diferente. Apesar de ser a história de um pai, qualquer um pode assistir e se emocionar com alguma camada.

E de camadas o diretor Darren Aronofsky entende. Seus filmes (seja escrevendo e/ou dirigindo) são recheados de camadas, uma em sobreposição à outra. Para alguns, sua cinematografia é “facilmente” decifrável, para outros não.

Eu sou um dos que admiram seus filmes e se devaneia com suas camadas. A Baleia fala de coisas atuais, inclusive sobre tolerância, empatia e diálogo; particularidades caras nos dias de hoje.

Charlie, o professor de redação, pode ser qualquer um. Sua aparência física impressiona (o público e os personagens da história), mas seu interior é comum a todos nós. Ele é retratado como um ser humano, com falhas, arrependimentos, mas também com qualidades e virtudes.

Se por sua aparência você seja levado a acreditar que ela é o resultado de uma doença que ele carrega, saiba que isso é uma possível consequência, não necessariamente a causa. A obesidade mórbida traz consigo complicações para o corpo, mas sua reversão, antes de tudo, precisa ser interior.

Liz, amiga e enfermeira de Charlie, carrega com sigo uma profunda dor. Ao mesmo tempo que o ampara, não consegue mudar o pensamento de seu amigo. Ela, para mim, representa esse sentimento de impotência diante de alguém que precisa de ajuda.

Aronofsky é um cineasta que conseguiu fazer com que apenas um cenário não fosse enfadonho. Ele mexe, muda nossa visão, é criativo na construção da mise-en-scène e sobretudo, atinge nossos corações.

Ao assistir A Baleia, talvez você não chore, afinal isso não é uma regra. No mínimo, você será impactado e, ao pensar no filme, pensará em sua própria vida.

A partir daqui teremos spoilers do filme A Baleia.

Os personagens de A Baleia

Além de Charlie e Liz, no filme vemos outros personagens que exercem um papel especifico. É claro que cada visão que tive deles é extremamente particular, já que cada pessoa teve experiências diferentes ao longo da vida.

Thomas, por exemplo, é um garoto religioso que tenta ajudar Charlie a qualquer custo. Por acreditar na recuperação do protagonista, ele é insistente e, as vezes, inconveniente; bem como um fanático.

Apesar de sua aparência frágil e inocente, ele carrega com si todo o preconceito e visão distorcida que uma religião cristã pode ter. Isso fica claro quando ele diz coisas horríveis a Charlie, culpando sua homossexualidade pela morte de Allan.

Embora triste, abalado e chocado, Charlie não consegue hostilizá-lo. Não por falta de argumentos, mas porque ele via em Thomas o jovem Allan que gostaria de voltar ao seio de sua família.

Veja bem, ele não concordou com aquela visão retrógada, mas por um breve momento ele viu seu companheiro naquele garoto.

Allan queria voltar, mas queria por inteiro. Sua família, sua religião e principalmente seu pai, deram tudo o que Allan precisava para viver. Amizades, alegrias e um lar. Mas ao não concordar com sua forma de amar, eles tiraram tudo dele.

Essa parte da história particularmente me abalou bastante, porque entendi que Allan teve sua afetividade sequestrada e sob custódia o tempo todo. Ao sinal de ser diferente, tudo foi tirado dele. Nem todo mundo tem forças para construir toda uma vida sentimental depois de adulto.

Apesar do amor de Charlie e Liz, Allan não resistiu à sua própria tristeza. E Liz passa por isso novamente com o fim de Charlie; isso dói demais.

Já Ellie, a filha de Charlie com Mary, representa o melhor do protagonista. Todo o amor que carrega, toda sua impetuosidade e intensidade, mas sobretudo sua empatia.

Ellie é o último amor na vida de Charlie, seu último “ensaio” para o mundo. Mesmo carregando seus erros do passado e a gravidade de sua situação atual, é por ela que ele pode voar!

A Baleia não é sobre a obesidade de uma pessoa.

O final de A Baleia

Momentos antes de partir, Charlie pede para Ellie ler sua própria redação (ensaio) que ela fez na oitava série. Para ele, aquilo representava a maior beleza que alguém poderia escrever.

Engraçado como o tempo é bastante presente no filme, assim como os relacionamentos. O tempo pode curar os términos, quase sempre.

Com Allan, mesmo não sabendo nenhuma lembrança boa que os dois tiveram, o filme dá a entender que se amaram muito. Já com Mary, mesmo a narrativa nos mostrando que o término foi ruim e traumático, é em uma lembrança dessa época que Charlie se prende para continuar.

O tempo tende a deixar as boas lembranças em evidencia, e as desagradáveis geralmente ficam misturadas e sintetizadas em um sentimento ruim. Você já pensou nisso?

O final, quando Ellie está lendo seu poema e Charlie levita, não deixa de ser uma característica Aronofsky. Para mim, representou a passagem de Charlie.

Achei mais bonito esse final onde ele levita para a luz, do que mostrar ele caindo morto num baque seco no chão. Não iria combinar com a emoção positiva que o público estaria sentido naquele momento.

Conclusão

Agora quero saber de você, o que você achou do filme A Baleia? Deixe nos comentários!

*com informações do IndieWire.

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Albert Hipolito

Criador do Por Dentro da Tela. É Radialista e nas produções cinematográficas sempre está envolvido na arte. Tem em Pokémon e em Star Wars suas lembranças vivas da infância.

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