O filme Close, um dos indicados à Melhor Filme Internacional no Oscar 2023, conta uma história sobre amadurecimento. Mas será que sua trama veio em momento errado?
Escrito por Angelo Tijssens e Lukas Dhont, os acontecimentos vão ganhando um certo espaço, mas esbarram em uma inclinação abrupta que serviu exclusivamente para servir o coming of age.
Na crítica de hoje explico como o filme me pegou em um momento ruim e porque é sempre importante falar sobre masculinidade.
Close
A amizade entre os dois meninos de 13 anos, Leo e Rémi acaba de repente. Lutando para entender o que aconteceu, Léo procura Sophie, mãe de Rémi.
Como é bonito ver uma amizade sincera. Lukas Dhont, que também dirigiu o filme, consegue mostrar o cotidiano de uma relação verdadeira e contagiante.
Vemos Leo e Rémi se complementando, mostrando como é melhor passar pela vida quando tem alguém do lado. Para mim, a amizade deles era como um copo de água cristalina.
Ao retornarem em um novo ano escolar, os dois acabam na mesma sala e o que era natural acaba sendo hostilizado. Por menor que seja, um comentário pode destruir algo sólido. Voltando para o copo d’água, se uma gota de sujeira cai nele, você logo duvida da qualidade da água.
Como é importante falar de masculinidade com as crianças. Normalizar o afeto se faz necessário, urgentemente. A história de Leo e Rémi, por mais que seja ficção, ressoa em muitas verdades pelo mundo.
Dhont dá espaço para nos conectarmos com os meninos, mas de maneira abrupta muda o rumo da história. A partir da metade do filme, ele altera sua abordagem. Ainda é sobre amadurecimento, mas sob um outro aspecto.
O roteiro tem cenas excelentes, como por exemplo o jantar dos pais de Rémi na casa da família de Leo. Mas ao mesmo aposta que você esteja engajado para percorrer um caminho sentimental amargo.
Ainda sobre o roteiro de Close
No começo, pensei que o filme iria por um caminho, mas com a mudança abrupta, precisei mudar uma chave dentro de mim inesperadamente. Assim como o cineasta me deu tempo de me acostumar com a amizade deles, eu precisava de um pouco mais para se preparar para a mudança.
Importante dizer que, diferente de Aftersun (que tem outra proposta, mas acaba se aproximando de um dos personagens), Close não soube usar as entrelinhas e os sinais que as pessoas emitem.
Para mim, o roteiro foi um pouco displicente ao tratar uma assunto tão sério de maneira tão maniqueísta.
É claro que entendi o propósito daquilo, mas nesse momento achei o filme pessimista. Não me entenda mal, gosto de historias agridoces que revelam a verdade do mundo, mas Close é amargo. Dhont errou a mão.
Os personagens, por outro lado, são incríveis, todos eles! Os adultos são maduros, os pré-adolescentes são “chatos”; e a mistura de tudo isso cai muito bem em tela.
Destaco também a montagem. Lukas Dhont sabe como usar respiros que “não dizem nada” para dizer muita coisa.
Além disso, entendo porque Close chama atenção. É uma história sobre como estamos matando a inocência das crianças e isso é muito triste.
Conclusão
Close começa bem, tropeça no meio e tenta se sustentar no final. Não sei se a intenção foi emocionar por emocionar, quero acreditar que não. Lukas Dhont é um cineasta de mão cheia que entende as dores atuais!
Apesar de não gostar deste ponto, não tenho como ignorar tudo em volta. Bem como não posso ignorar estes nossos últimos anos. Para mim, por mais que eu defenda filmes “reais”, espero sempre encontrar uma ponta de esperança; esse não foi o caso.
O filme é lindo e triste, assim como os últimos anos do ser humano na Terra.