O Caso Evandro se tornou notório nos últimos tempos por conta do mistério que cerca o caso, bem como os novos desdobramentos mesmo quase 30 anos depois.
O caso aconteceu em abril de 1992 na cidade de Guaratuba, no Estado do Paraná. O menino Evandro desapareceu, poucos dias depois seu corpo foi encontrado.
A suspeita de um ritual satânico fez com que a Polícia prendesse sete pessoas. Eles foram acusados de raptar o garoto e sacrificá-lo num ritual sinistro. Entre os sete estavam Beatriz e Celina Abagge (filha e esposa do prefeito de Guaratuba, Aldo Abagge). Por conta de serem figuras notórias, o caso na imprensa ficou conhecido como as “Bruxas de Guaratuba”.
Entre acusações infundadas, falta de provas e discurso exaltados de ambas as partes, até hoje existem pessoas que olham desconfiadas sobre o desfecho que esse acontecimento tomou.
E não é para menos. O jornalista e professor universitário Ivan Mizanzuk adaptou o Caso Evandro em formato podcast. O primeiro episódio do Projeto Humanos: O Caso Evandro foi publicado em outubro de 2018. De lá pra cá, o assunto dominou a podofesra (pelo menos no segmento “true crime”).
[a partir daqui teremos SPOILERS que podem prejudicar sua experiência na série e/ou no podcast]
O que Ivan conseguiu, e que deu uma reviravolta em quase 30 anos do caso, foram as fitas das confissões. Só que dessa fez elas não estavam editadas e mostram que alguns acusados foram torturados à confessar um crime que não realizaram.
Mas para que as fitas tivessem um impacto maior sobre os envolvidos, a produção da série pediu para que Mizanzuk postergasse a publicação do episódio 25 (que revela o conteúdo das fitas).
O Caso Evandro no Globoplay
Em entrevista ao Cochicho, a co-diretora Michelle Chevrand revelou alguns detalhes interessantes sobre o caso.
Em primeiro lugar, os direitos de adaptação para a TV já estavam comprados antes da publicação do primeiro episódio do podcast. Essa foi a primeira vez que um produto de áudio é adaptado para as telas.
Foram oito meses na construção dos roteiros. Os diretores Aly Muritiba e Michelle Chevrand orientavam os roteiristas a focarem em certos pontos da história, já que eles teriam apenas oito episódios.
No período de aprovação final dos roteiros (no final de 2019) o Ivan recebeu as fitas, então eles decidiram filmar a reação dos personagens antes do episódio 25. Já que alguns envolvidos ouviam o podcast, como Diógenes Caetano dos Santos Filho e Beatriz Abagge.
As seis semanas de gravação foram finalizadas com a reação dos envolvidos ao ouvirem as fitas pela primeira vez. No episódio sete da série, o promotor de justiça envolvido no caso, Paulo Sérgio Markowicz de Lima, disse: “é um prato cheio para a defesa”.
O advogado de defesa Antonio Augusto Figueiredo Basto, disse em entrevista à rádio CBN que pretende, nos próximos dias, entrar com um recurso no Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), pedindo a anulação do julgamento e indenização do Estado. Para o ele, o conteúdo das fitas é claro: “as torturas são, sob a minha ótica, absolutamente demonstradas”.
Não só entrarão com um recurso na Justiça do Paraná, mas também a defesa vai protocolar um pedido na Corte Internacional de Direitos Humanos, na Procuradoria-Geral da República e na Ordem dos Advogados do Brasil.
Vale a pena assistir/ouvir?
Numa conversa informal que tive com um advogado, ele me disse que vê com parcimônia casos de crimes tratados na mídia. A justificativa é quando estes casos ganham popularidade, despertam uma emoção divisora, que as pessoas acabam adotando. Isso é fruto, como bem disse ele, do resultado da “Sociedade do Espetáculo”, teoria criada pelo filosofo francês Guy Debord.
Tendo a concordar com ele já que é notório vermos as pessoas se dividirem em qualquer produto audiovisual. Mesmo nas noticias, onde deveriam ser tratadas apenas como um pedaço da verdade, são consideradas como absolutas e suficientes para condenar ou inocentar alguém.
Mas no Caso Evandro, o trabalho sério e respeitoso que Ivan Mizanzuk teve desde o começo, mostrou que é possível fazer um trabalho ponderado, e que traga, em última análise (mas não menos importante) o censo de justiça que a família Caetano merece e, especialmente, para os sete inocentes de Guaratuba.