O Brasil nu e cru de Rogério Sganzerla

Rogério Sganzerla foi um cineasta brasileiro.

Casado com a atriz e cineasta Helena Ignez, ele viveu para o cinema, trabalhando na produção até os últimos dias de sua vida.

Antes de produzir, escrevia sobre cinema para o jornal O Estado de São Paulo.

Em sua notória carreira, teve uma busca constante em romper a lógica dramática.

Junto com Júlio Bressane, fundou em 1970 a produtora Bel-Air, que foi responsável por grandes filmes como “Copacabana, Mon Amour” e “Sem Essa, Aranha”.

Ele morreu em 2004 em virtude de um tumor no cérebro. Sua morte ficou marcada pela impossibilidade de realizar seu maior sonho: refilmar seu clássico “O Bandido da Luz Vermelha”, que contaria com Alexandre Borges no elenco.

O estilo cinematográfico de Rogério Sganzerla

O Bandido da Luz Vermelha (1968).

Diretor de clássicos do chamado “Cinema Marginal”, ele era conhecido como “o cineasta maldito”.

Ele foi tido como um “maldito” no mercado. Bateu de frente com produtores, fez inimizades, encarou portas fechadas.

Sua filmografia, que não chega a 15 títulos, é muito menor do que sua capacidade criativa.

Seu primeiro curta-metragem foi gravado em 1967 e, no ano seguinte, consagrou seu primeiro longa-metragem, “O Bandido da Luz Vermelha”, com apenas 22 anos.

Influenciado diretamente pela cinematografia de Orson Welles e Jean-Luc Godard, com a brasilidade de José Mojica Marins, utilizava com frequência os clichês dos filmes noir e das pornochanchadas.

Sganzerla fez da ironia sua marca registrada, bem como o sarcasmo, a mistura de linguagens, as lentes anárquicas e debochadas e a câmera imprevisível.

Orson Welles foi um grande diretor norte-americano e grande influência na carreira cinematográfica de Sganzerla.

Seus filmes atravessam toda a trajetória de Rogério Sganzerla, atingindo especial densidade nos filmes que o cineasta brasileiro dedica a It’s all true, o projeto que trouxe Welles para filmar no Brasil em 1942 e que nunca viria a ser finalizado por ele.

Cinco principais filmes de Rogério Sganzerla

1 – O Bandido da Luz Vermelha (1968)

Considerado um clássico do cinema marginal, o filme foi inspirado nos crimes cometidos pelo famoso assaltante João Acácio Pereira da Costa.

A história do filme é sobre Jorge, um assaltante de residências de São Paulo, apelidado pela imprensa de “Bandido da Luz Vermelha”.

Ao utilizar técnicas peculiares de ação, sempre com a ajuda de uma lanterna vermelha, ele driblava a polícia e fugia de forma ousada, antes de gastar tudo que roubava de maneira fútil e extravagante.

Então, ele se relaciona com Janete Jane, e como resultado conhece outros assaltantes, um político corrupto e acaba sendo traído. Perseguido e encurralado, encontra somente uma saída para sua carreira de crimes: o suicídio.

O filme possui continuação dirigida por Ícaro Martins e Helena Ignez, viúva de Sganzerla e foi lançado em 2010 sob o título de “Luz nas Trevas – A Volta do Bandido da Luz Vermelha”.

Em novembro de 2015, o filme entrou na lista feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.

2 – Nem Tudo é Verdade (1986)

O roteiro de comédia, documentário e ficção fala sobre a visita do cineasta e referência Orson Welles, ao Brasil em 1942.

Com o propósito de rodar It´s all true, Welles nunca conseguiu concluir o filme, já que foi boicotado durante o governo de Getúlio Vargas e devido à morte de um jangadeiro que morreu durante as filmagens.

It’s All True reconstitui a trajetória dos quatro jangadeiros que, ao reivindicar melhorias para a sua classe ao então Presidente Getúlio Vargas, fazem a travessia Fortaleza – Rio de jangada. 

O projeto era inicialmente de intercâmbio cultural latino-americano.

Contudo, o renomado diretor decidiu ir além e começou a filmar o dia a dia nas favelas, vilas de pescadores e rituais de macumba.

Tal fato desagradou não só os produtores mas também o presidente na época.

Como resultado, as filmagens foram interrompidas e o cineasta por pouco não foi expulso do Brasil.

O diretor Rogério Sganzerla reconstruiu a passagem de Welles pelo Brasil, relatando os conflitos e dilemas encontrados pelo cineasta naquele período.

3 – Copacabana, Mon Amour (1970)

Copacabana, Mon Amour (1970).

Gravado em meados dos anos 70, o filme sofreu censura, o que impediu que fosse lançado nos cinemas.

Sua restauração ocorreu em 2015, ano em que foi relançado durante uma mostra em homenagem a Rogério Sganzerla, realizada no Museu da Imagem e do Som em São Paulo.

Nele, é contada a história de Sônia Silk, uma prostituta que sonha em virar cantora da Rádio Nacional.

De tanto ouvir a mãe dizer que ela e o irmão são possuídos pelo demônio, Sônia procura um pai de santo para tentar quebrar o feitiço maligno que atua sobre os dois.

4 – Tudo é Brasil (1997)

O terceiro filme da trilogia sobre a vinda de Orson Welles ao Brasil fala sobre o filme americano It’s all true, que foi rodado na década de 40.

Com cenas inéditas, ele mostra os bastidores do filme com depoimentos de Welles e retrata o cotidiano dos negros dos subúrbios do Rio de Janeiro e dos jangadeiros de Fortaleza.

O cineasta, encantado pela cultura e criatividade do povo brasileiro, filmou cenas históricas sobre a origem do samba e sua relação com o jazz.

A produção conta com imagens exclusivas que reconstroem nossa história musical.

5 – Signo do Caos (2003)

Esse foi o último filme produzido por Rogério, em que ele usou pela primeira vez o formato de película que permitia uma fotografia com bons contrastes.

Na história, uma carga de material de cinema entra na alfândega do Rio de Janeiro.

No entanto, ele só pode ser liberado após inspeção do conteúdo pelo serviço de censura do governo.

O responsável por tal análise é o Dr. Amnésio.

Ele foi exibido como hors concours na mostra Premiére Brasil, em 2004.

O filme contou com o apoio da distribuidora Rio filme, que injetou R$ 280 mil no projeto.

Ele tinha um planejamento de sete anos que não foi inscrito nas leis de renúncia fiscal.

Se encontra na lista da Ancine como 97º melhor filme brasileiro.

Créditos Finais

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